Friday, May 11, 2007

LAVRAS

Palavras !
Eu vos quero
a hipocondria poética,
quero delimitar
a latitude
entre o nariz e o sexo,
quero a plena necessidade,
a ninfomania ortológica,
o gozo sufixo,
o amor indicativo,
a língua em ditongo.
Palavras !
Eu vos quero
não mais palavras,
porém nem tanto
amigas de outrora ( última hora ? ),
em vós
a sublime hipocrisia
de minha poética neurótica,
caótica-carótida,
em vós que o sangue escorra
e eu me lambuze os pés
em tuas letras esfaceladas.

FRAGMENTUDO

Os ponteiros do relógio
sangram horas aflitas.
meu coração é um barco
de papel
ancorado na sarjeta
(lilás)
da sua rua.
Um urso declama versos anarquistas
(sobre as flores)
da janela.
no apartamento
há uma janela
onde há
uma luz que (se) acende.
Meu coração naufraga em meio às flores, os versos
janelas, os barcos de papel.
Os ponteiros do relógio estancam
fim.

IDA E VOLTA

A mim pouco importa a volta
e se a gente volta assim
não faz falta
se a mim pouco importa.


(um tanto quanto a saudade
se desfaz em pó
no tapete da sala)


Enquanto a gente volta a mesma
tecla em novos sons
mas a gente insiste
e bate a porta.


Nunca na cara a mesma lágrima
é sempre a mesma dor
que volta,
mas a gente insiste
e abre a porta
e vai...

MOÇA

De repente
me pus a dançar
esperando o trem
e todos que ali estavam
se espantaram comigo:

- Mas se não é aquela moça triste ,
olhinho apagado ?

- Então a moça feia endoideceu
no lamento dos pecados nunca cometidos?

- Se não é a moça magra
que ainda ontem ali chorava ?

O que ninguém sabia
era que a moça feia,
a moça triste e magra,
mesmo que por um instante,
descobriu que em um lapso
da vida alguém havia
cantarolando a melodia,

- e eu dançava -

E alguém sabia (finalmente)
que a moça triste feia e magra
em si se redescobria
e aguardava,
guardando seu lugar,
no vagão do trem das moças magras,
feias, tristes e
apaixonadas...

MEUS OLHOS

Mil olhos são todos
que rondam nossos doces lares
espreitando insônias indivisíveis,
vigilantes á todos
os desejos reprimidos de cada dia.

Mil olhos são todos - vorazes -
desvestindo indevassáveis
paredes de concreto e aço
desnudando desavisados
corações repletos
de muito medo e algum pouco sangue.


Mil olhos revelam
escuridões sem fim
em toda a nossa claridade
e transparência.

Mil olhos...

estão todos cerrados,

alheios à tudo

- imunes -

distantes...

à todos olhares.

DESGASTADO POEMA

Por que
tantas
palavras
que
sussurras
em
meus
ouvidos
e
julgas
tardias ?

Não há tardias palavras,

o que ocorre

é um desgaste natural provocado

pelo uso abcesso/excessivo

através dos tempos (tantos tempos tantos)

um enfarte do jargão,

o completo colapso de qualquer sinônimo,

a taquicardia das metáforas ensandecidas...

DAI O POEMA ESTILHAÇADO !

POEM/EU

Um sopro de luz invade o quarto
e sonho,
porém não sei que sonho
ou ser real em minha idade.


Outrora sonho acordado
e também não sou o sonho
deveras fosse saber o (que) real.


A acidentada relação
entre sonhos
desejos
e palavras

habita a boca/cabeça de
pré-julgados poetas
em épocas outras (épicas?)


Mas meu sonho não foi você
e,
enquanto sonho
foste verdade
- eu nada mais/menos cada dia (não) sei
mas enquanto houverem tantas noites
e também sonhos,

eu acredito...

esquecerei.

AMADRUGANDO A SAUDADE

Em um gesto brusco
abro
a janela
e contemplo
estrelas

(por pouco não empalideço)

Penso

-você...

Acendo

-um cigarro...

(já é quase dia na ponta
desse meu cigarro)


Ah ! São tantas as histórias que tenho !

A escuridão da noite
acaricia e excita:

- o spray se desvanece no muro

que já não tem razão de ali estar.

VOAR...

.Trafegar incertos olhos vadios na noite-
conciliar-
metade nada ser-

ler incertos olhos e dedos e bocas

viajar-

purificar metáforas
metamorfosear
paixões e lágrimas

na cela de uma cadeia-
integrar o homem ao homem

como em um beijo-

gritar até perecer o instante

persistir

até o último instante

soltar a primavera prima dos dentes

e olhar vagabundo olhar de anjo-

face a face

olhar angélica-angelical - (a puta-mor)

de encobertos céus piratas
nas latas de sopa dos mendigos...
e gargalhar,
até sentirem que estou louco,
e aí,
completamente absurdo,
devo
morrer de amor...

CONCLUSÃO

O álbum de fotografias

ainda está sobre a estante

de cedro

na sala de estar,


sinto muito...

Talvez ainda falte

grana e gozo,

coragem prá mais

uma

no fim do dia,

Talvez ainda falte

um pouco



de

amor ou


um dia melhor prá se escrever um poema.

RECOMEÇO

Você me quis
ficar feliz,
porém não diz
eu ser
feliz.

Você me quis
ficar aqui,
mas
eu
não sei.

Foi tudo assim,
foi tudo bem,
mas
eu
não
fui.


Foi tudo assim,
foi tudo fim,
mas
eu
não
fui.


(sob qualquer outra colocação,
senão palavras, olhares
e todo e qualquer sentido,
o nosso amor mal começou ! ).

PERGUNTA

Esboço o traço
delineando
inter-relações
entre
paixões antigas
e
futuras.



Me projeto
-incontinente-
á margem,

- total ruptura -


Me guardo e projeto
sob o desenho
que detalha todas as visões e
prismas
meta contidos.


Me busco
sob
o desenho, no traço,

em cada linha,

relembro e renovo:


- Foram assim realmente tantas paixões?

ABSURDO ATO

São corredores e paredes
corações corroendo em sangue
celas de cadeia
ponteiros dos relógios (the fucking hours!)
Na densa fumaça
paira o segredo de anoitecer um dia
(em um instante corrompido o dia - trevas)
Não! Isso não é vida
que se apresente,
melhor se fazer ausente
como se faz um verso triste
tão logo surja a primeira lágrima.
Que se faça fértil no papel
a gota de suor em sua testa
e que seja um poema
nas estrelas
desta noite que não o é.

PROCURA

Por
entre
estrelas
persigo
palavras,

às vezes são vozes,

às vezes são tantas,

mas
nunca a palavra

me sai da garganta,

às vezes é medo,

às vezes é pouca.


Porém eu persigo num tempo futuro
de mundos distantes
às vezes palavras
por tantas e outras vezes
silêncios tantos.

nem
sempre
verdade,
nem
sempre
saudade,

nem sempre eu persigo.

- ADEUS,ATÉ...

O dia - em branco -
passa,
a nuvem passa,
saudades tenho,
seus olhos fogem.
Nos ponteiros do relógio
a agonia de cada segundo
que avança, violentando as horas.
Nem sei faz quanto tempo
mais que a gente não se via,
o que se fazia não era só,
e, enquanto a nuvem passa,
- verborragia -
o mundo se descobre sem vergonha
e mostra na carne as dentadas fundas
da noite escura, calada...
Amor, a gente basta,
só o que se não pode
e se deve não poder
e até que se possa querer