Sunday, March 21, 2010

Vitimas Ocasionais

Há que se romper com as amarras do silêncio
e gritar de onde se estiver com pulmões plenos de liberdade e oxigênio,
do mais fundo que se possa.
Há que se mostrar o rosto, se expor, estar presente,
impor a própria presença e desafiar os presentes de forma objetiva, aguda, inconveniente
de modo a se manter vivo e atento.
Há que se morrer de amor para sobreviver-se à dor da solidão sem fim,
que se matar a cada fim de tarde para suportar o vazio da noite
que nunca se acaba.
É necessário fingir-se de presa frente ao predador
e enganar a si mesmo nas imagens refletidas,
há que se morder os lábios,
que se manter desperto, que se matar de novo
e sobreviver a tudo, a cada instante que se sucede ao outro.
É importante mencionar a vida, mascarar o medo,
respirar fundo e mergulhar atônito e descontrolado.
Há que se sorrir de novo
se em cada despedida houver um novo encontro,
Há que se gritar um verso e dançar sem jeito
posto que é necessário começar tudo de novo,
de um jeito novo - um novo jeito
que também se acabe
que também se mude,
mas que ninguém sabe e de forma aflita,
ardendo em febre e poesia,
se mostrar mais uma vez
e se entregar de novo.
A arte vitimiza a vida,
vilaniza o sonho,
elimina a dor.