Sunday, December 27, 2009

Dor

sentir que a dor
é apenas um sentido,
processo químico,
ocorrência hormonal.
sentir que a dor
é apenas um sentido
que acaba comigo
posto que único,
complexo,
reflexo de desvarios inertes,
desprovido de manifestações
prematuras,
sangrentas,
nefréticas.
sentir que a dor
é apenas dor
que sinto
e passa.

Tempo

Decidi que o tempo era findo
mas não de forma festiva
como um ano que se acaba
ou um aniversário qualquer.
O tempo se acabara de forma compenetrada,
refletida,
planejada passo a passo que eu desse;
de forma consentida e
sem os mecanismos cronológicos que mensuram
meu tempo ou seu tempo.
Decidi assim e assim fiz
-acabei com o tempo em um só golpe,
frio,
preciso como uma navalha afiada
que rasga a carne e abre um universo de possibilidades
sanguíneas:
- infecções, inflamações, contestações e bactérias.
Acabei com o tempo porque eu quis,
porque essa sempre foi minha vontade:
- estancar a dor das horas em meu corpo,
parar com o progresso lancinante dos tecidos
e das células rumo ao desterro ermo
e solitário que é seu destino,
definitivamente extirpar o funcionamento
orgânico da matéria que carrego reagente
e penitente,
parar tudo terminantemente.
De forma que nada mais restou
pois acabei com o tempo
e fiquei aqui
sem saber o que fazer
com tudo que me restara,
fora o tempo
que suicidei
em um verso inspirado
num dia que não se acabava.

Friday, December 25, 2009

Fotos de Familia

Nas imagens da tela
lembranças tantas
de muito tempo atrás.
Lembranças, memórias
imagens de outros tempos,
tempos de vitórias, desafios,
outras histórias.
O que fica da lembrança?
O quanto somos daquilo que fomos?
Por que tanta importância às imagens
estáticas de nosso imaginário
povoado de ressentimentos e ilusões?
O que fica da lembrança?
Sinto falta de sorrisos nas fotos,
sinto falta de aconchego,
sinto falta dos momentos que não vivi,
saudades do que não sei,
sinto medo de virar foto
apenas imagem,
apenas lembrança,
apenas.

Em frente ao mar

deixar-se estar em frente ao mar.
sorver a maresia confusa
em minhas narinas
e devolver com meu silêncio
a poesia das palavras,
projetar ao infinito a saudade
que sinto de você
e a falta que me faz o seu sorriso
de menina e seus olhos verdes
de mulher.
deixar-se estar em frente ao mar.
navegar meus pensamentos
de forma imprecisa,
mastigar de boca aberta
a vontade de me atirar
e partir em meio ao mar,
chegar onde você está.
deixar-se estar em frente ao mar.
atiçar as chamas vazias
na escuridão dos meus sonhos
e mergulhar, imenso e feliz,
no obscuro das minhas memórias
solitárias e profundas,
recalcitrar a poesia imunda
em minha boca seca
em frente ao mar,
sangrar versos de mentira
cicatrizar feridas inoportunas
deserdar as crias das minhas neuras
e, de novo, versejar de forma pura
a ladainha das palavras que se repetem.
deixar-se estar em frente ao mar
sorver as incertezas das ondas
que reverberam meu desejo,
meu silêncio,
meu poema em frente ao mar.

Sunday, November 29, 2009

Longe

Estou longe do centro,
longe de mim,
você não está
e me faz muita falta.

Estou longe do meio,
longe de tudo,
você não está
e tenho medo....de tudo

Estou longe de mim
porque você não está
e fico assim
sem palavras
num silêncio constrangedor
e repetitivo,
uma ausência consentida
e maldita,
necessária e aflita.

Estou longe de mim
porque você não está aqui...
e não posso ser eu
sem você aqui.

Monday, October 05, 2009

Pensei muito em você. (para o Nietzsche - meu amigo que eu nem sabia!)

"A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade" Friedrich Nietzsche.

Hoje pensei muito em você,
em seus olhos negros
perdidos em um espaço etéreo,
divagando sobre o proximo passo,
vislumbrando um horizonte sem fim,
cheio de dúvidas, assombros, tristezas
e lindas memórias - doces e suaves.

Temos a mesma dor em nossa alma,
as mesmas pedras no caminho e
vivemos tentando extirpá-las,
suprimi-las, destitui-las de nossa existência e
sofremos a dor da ausência de forma parecida,
perecemos no abandono em que nos imaginamos
e buscamos em nossas lembranças
os rostos familiares, as vozes que gostamos,
os gestos simples e delicados
aos quais estamos habituados.

E ela nos faz muita falta porque nos protege,
nos acaricia, alimenta,nos motiva a continuar.
A falta que ela nos faz aflige nossa esperança,
desilude nosso coração que sangra e pulsa
cansado de tanta dor e tristeza,
exausto de tanta ausência
a ponto de não mais querer continuar.

Hoje pensei muito em você,
em nossas noites serenas
- quando nos entendemos
de uma forma que ninguém mais é capaz,
quando trocamos idéias e sensações
no mais absoluto silêncio do quarto, da vida, do mundo -

Pensei e continuo pensando
e não vou parar nunca mais
porque você é parte de mim
na dor lancinante que sinto agora
e na alegria de saber que daqui a pouco tudo vai passar,
que vamos estar juntos de novo - eu, você e ela -
juntos de novo
na simplicidade e obviedade da alegria
que sempre tivemos
e vamos ter de novo
e agora para sempre.

Hoje pensei demais em você
e espero que quando você lembrar de mim
eu seja como um par de asas que levem você de volta
para onde você quer estar.

...e vou estar lá esperando!

Thursday, October 01, 2009

Open Windows

(dedicado à minha filha Gabriela)

Da janela vejo a cena
feito um vídeo
- janela imortal da imagem -
refaço o cenário,
desfaço a visão;
da janela reviso a rima,
deleto a dor,
modifico a poesia através de janelas
em cascata,
renderizadas,
- cenas, versos, dores
em parapeitos suspensos
e vidros manchados
de solidão e suor.
Das janelas de ontem realizo o futuro,
referenciando ocorrências históricas,
arrependimentos,
visões magníficas
de pequenos progressos
e atrasos insignificantes,
revejo o microcosmo da vida celular
que habita meu corpo – celular –
e meu olhar distante
navega em mares enlouquecidos
que me trazem
- naufrago inseguro -
lembranças do que ainda não vivi.

Da janela observo o tempo
que passa,
imune a tudo que passa
e vejo,
em um plano aberto,
imagens em movimento
nas janelas que projeto
das sombras do edifício em ruínas
que construí ao redor
e começo tudo de novo
pois a felicidade é urgente
e abro assim novas janelas
para que esta entre e se instale
nas estruturas de aço
da reconstrução do espaço que é meu,
das janelas abertas da minha vida sem fim.

Thursday, September 24, 2009

Other side

Há em mim
um outro...
que me incita
a mudar,
violentar meus conceitos,
vilipendiar minhas palavras,
refazer meus caminhos.
Há em mim
alguém
que desconheço
que me arranha a garganta
que grita seu nome
e não escuto.
Há em mim
contradições e maldades,
perversidade e carinho.
Há em mim
muito medo e vertigem,
canções inacabadas,
poemas ocultos (de mim).
Há em mim
um outro
que não sei
quem é
-sem mim,
mas que segue..
em mim.

Saturday, September 12, 2009

Será possível um segredo a dois?

Será
que o que calo
e apenas reflito em seus olhos
me desmascara
e revela o medo que tenho
que meu segredo já seja seu
como eu também sou?

de um comentário no blog do Danilo Mendonça Martinho: www.poetadacolina.blogspot.com

Friday, September 11, 2009

Todo Dia

hoje foi mais um dia,
mais um apenas.
um dia que sofri
todas as horas,
do qual fui vitima,
no qual perdi de mim mais um pouco
porque o tempo é cruel
e passa e nos envelhece
até quando sorrimos.
o tempo é como a cobra
que nunca anda para trás
e espera seu momento único
de dar um salto
em nossa garganta nua
e morde fundo
e deixa marcas,
cicatrizes que não se curam.
hoje foi mais um dia
mais um apenas
e eu já não sei se sou
o que fui um dia e assim
são os dias
que passam
e me deixam assim.

Mais Saudades

procuro em versos
encontrar um pouco de seus olhos
que me fazem tanta falta
quando procuro um pouco de mim
e não encontro
porque não sei mais de mim,
porque não mais me encontro
sem seus olhos
em mim.

Das Gerais

viajo pelas Gerais de forma específica.
são cidades que se encontram
com estradas que se cruzam
de forma oblíqua e simples
tingidas do negro do asfalto e
da poeira silenciosa
-partículas de tudo que pairam no ar-
e assim a vida persegue seu destino
de continuidade infinda...
prossigo em meu caminho
de quilômetros sem fim
eu e a vida lado a lado
um pouco cansado de tanto caminho percorrido,
tanta história, tantas saudades,
um pouco cansado
de cidades que se encontram
com estradas que se cruzam
e se completam e se terminam
em bifurcações nervosas e latentes
paisagens verdes
(você não sabe de quantos tons o verde é capaz
-você que traz o verde em seus olhos)
e me refaço a cada novo dia
que começa ou termina,
invariavelmente,
em uma estrada que conheço mas me ignora
e me pergunto:
-será que não tem sido assim desde o princípio?

Monday, August 03, 2009

Ainda

será que somos nós
será que ainda somos,
o que será que somos
posto que tudo ainda é.

Sempre assim

vou desmentir sua verdade
calar seu pesadelo
gritar teu nome no silêncio
vomitar em sua roupa.
vou sangrar seu raciocínio
reverberar sua angústia
quebrar a sua cara
sacudir seus ossos
lamber o chão gelado
escarrar em seus olhos
e vou me arrepender de tudo
e será tarde
porque é sempre assim,
é sempre tarde
quando tento fugir de mim..

Eu

vil e insano
meu verso
se engana
e fala de mim
quando esqueço
a poesia.
oco e mundano
meu verso
se esquiva
e trata de tudo
quando sou eu
pois tudo sou eu
exceto a poesia.

Rumos

leio, de novo, versos de ontem
e me envergonho
das palavras
que me reencontram
mais velho, mais gordo,
mais cético em relação à poética
dos símbolos.
leio, mais uma vez, versos que escrevi
e relembro as janelas abertas
para o mundo que tranquei com
cadeados de sisudez e desesperança.
releio a história no papel branco
que manchei com o sangue
das minhas palavras secas
e fico triste quando percebo
que apenas as deixei ficar
(re)pousadas nas pedras do meu caminho
e parti.

Ecos de mim

incansável minha retórica ecoa
pelos cantos todos da boca.
é som que soa assim no silêncio
é som que ecoa assim no vazio.

inapelável, intangível,
minha poesia toda é à toa.

é da rua,é do meio e ecoa
pelos cantos todos da boca
que tem seus lábios ressecados
de tanta aridez e insucesso.

imutável, insensível
minha poesia toda é à toa.

é voz que voa,
apenas voa
é som que soa...
apenas

é poesia e ecoa.

Esperança

súbito renasce a esperança.

ressurge do nada, do vazio,

do oco de tudo.

vem do mais torpe

do mais fétido -insalubre-

volta assim,

inercial.

e não demanda sentimentos nobres,

palavras singelas, olhares poéticos.

minha esperança é suja e verdadeira

é cheia de lama ao redor,

é quase podre minha esperança

-fétidos gases de esperança-

e volta assim

miúda, pequena

mas intensa, plena,

segura de si.

e navego imune à solidão

em meio a traços de tristeza

saudade e esperança de verdade.

Saturday, July 11, 2009

Saudades suas!

sinto saudades
suas
que são minhas
sinto
quando nos falamos
sobre o que fizemos
em nosso dia,
nossas rotinas
rotas, caminhos
de todo dia.
sinto saudades
tantas
que são suas
sinto
quando nos renovamos
e reiteramos,
ratificamos
saudades nossas
posto que assim somos,
de tantas saudades
do que nós somos!

Desespero de você

Ocultar vazios infindos
em sorrisos amarelo-sociopatas
escrever frases sem nexo
em estilhaços de papéis opacos
preencher solidões sem fim
com palavras insanas
gritar
correr
fugir ao encontro de mim
prolixo
nefrético
cyberverso
fugir do encontro de mim.
mascarar verdades com poesia
desatar nós na garganta.
sobreviver enfim
ao que temo e
persistir enfim
ao que espero.
meu desespero
é de seguir em frente
e continuar vivo
e simplesmente
estar com você de novo!

Sampa in my heart!

são paulo é mole mudo meio tudo,

fundo negro seco impuro

é ode, pesadelo desapego diuturno

inteligência abstinência inapetência

vagabundo.

são paulo é pobre seco lindo esterco

veloz feroz sagaz audaz antrax

matrix halls bolacha sexo

completo

sem nexo

são paulo é soco perna boca e medo

é merda pedra esfera fedra

partícula ridícula neurótica

minúscula

estúpida.

são paulo é miúdo fígado rim pulmão

é parte coração metade ilusão

desasossego vilarejo solidão

é meu segredo fantasia uma palavra

é poesia.

são paulo é feio seio meio

é desaterro convexo

plexo apocalíptico

ritimia anacrônica afazia

são paulo é todo dia

em uma palavra: poesia.

Saturday, June 27, 2009

Amar é...você!

amar
é sublime
tal e qual
lamber o dedo
repleto de chocolate
e desejo.
amar é voraz
feito
mergulhar
no desconhecido
da vida
e sorrir
com dentes rilhados
e gengivas sangrando.
amar é singelo,
é segredo,
é sorriso.
amar é tranquilo,
melífluo,
etéreo.
amar é profundo,
vagabundo,
diuturno.
amar é proibido
feito uma placa,
um aviso de
não virar a direita.
amar é a luz
que absorve a
fumaça
do cigarro que acendo
enquanto escrevo mais um poema
de amor a você.

Por perto

por certo há momentos insanos
nesta harmonia plácida
e inconcebível,
por certo rosas negras e
sábados de sangue serão
metáforas alucinadas
de uma viagem sem volta
à qual não fui.
por certo metonímias e
outros macetes linguísticos
preencherão minha retórica(de merda)
de riqueza de detalhes
inúteis.
por certo há poesia
em meu desespero de encontrar palavras
que traduzam o que sinto
...por perto há poesia!

1983

lembrei agora
de um verso
esquecido
sobre a mesa
há muito tempo.
lembrei agora
de um verso
esquecido
que falava de mim
de nós
de tudo.
lembrei agora
de tanta poesia
que me permito uma lágrima
e um verso de amor.

Sangrar

sangrar
imensamente
a poesia
confusa
de meus dias.

sangrar
impensadamente
óbvio e sonolento,

sangrar a morte lenta
de forma intensa
e morrer,
de forma intensa,
ao
sangrar
imensamente
a hipocrisia
deste momento.

Vozes de mim

ouço vozes
e as vozes que ouço
gritam
em mim
todo o tempo...
ouço vozes que me dizem coisas
tantas que não sei se ouço
mas sei que são vozes
e que gritam
tanto que ouço
pouco do que dizem
e não entendo
tudo que dizem
mas sei que ouço vozes
e as vozes que ouço
gritam
em mim
todo o tempo...
gritam palavras inertes,
fáceis, imensas,
palavras ausentes, inúteis,
indecentes,
solidões e aconhegos,
sonhos, desejos,
palavras de ordem e de desapego,
crenças, rezas, mantras,hinos,
gritam aquilo que calo
em mim
aquilo que calo...
as vozes de mim...

Wednesday, June 24, 2009

A VIDA É PEQUENA

A vida é pequena
cabe em uma mala sobre a cama,
em um aceno tardio,
cabe em um medo insistente,
em um segredo vazio.
A vida é pequena,
cabe em uma memória de ontem,
em uma história de fim,
cabe em um som que se cala,
em um pequeno pedaço de mim.
A vida é pequena,
cabe em uma notícia ao telefone,
em um post ,
cabe em um corpo que cai
e se rompe...
porque a vida é pequena...

Wednesday, June 03, 2009

Tempos dificeis

aproxime-se do que é bom
porque se faz necessário
pois são tempos dificeis
estes que vivemos.
fique perto dos seus,
faça um verso de amor,
cante seu verso pra ela,
pois são tempos difíceis
estes que vivemos.
sorria do seu jeito desajeitado
porque já não nos cabem
mais mascaras
grite, se for essa a sua vontade,
para que todos saibam onde você está,
mas grite do mais fundo que possa
que por mais difíceis momentos
ainda há esperança
ainda há sentimentos.
que por mais dfíceis momentos
ainda há folhas secas
que o vento leva em seus braços
e resquícios de primavera
nas folhas que ainda restam.

Da saudade que eu sinto (de você)

ando tão longe de mim
que a solidão que me faz companhia
reclama de tanta saudade que sinto.
ando tão longe de mim
que a angústia dos meus dias
aflora nos gestos mais simples
como escovar os dentes,
fazer a barba, lavar as mãos.
ando tão longe de mim
que tanta falta que eu sinto
me faz sentir estar mais longe ainda.
mas hoje falta menos para que amanhã
chegue mais cedo
e falte menos ainda
para que eu possa me reencontrar
em você.

(dedicado a minha mulher e à saudade que sinto dela)

Friday, May 22, 2009

Lugar esquecido

havia um lugar
esquecido
no canto da minha saudade,
um gesto perdido,
um grito calado,
um bocado de medo e vontade.
havia um lugar esquecido
no canto de qualquer lugar
e resolvi, de qualquer forma,
vestir uma roupa e sair.
e dei adeus a saudade
e soube que havia um lugar
esquecido
ao qual eu não iria voltar.

Eternidade

morrer um pouco todo dia
é parte de mim.
assim
viver um tanto a cada dia
é uma equação impensada
e inútil
pois que a vida é sim
morrer um pouco todo dia
e persistir
é viver cada dia todo dia
todo o tempo da vida
e morrer também
pois que a morte é sim
viver um pouco toda vida.

An answer to Danilo Mendonça

That guy said that life was too much
that he could not breath.
And I said that life was too little
that I could not live.
But the question is:
What is the fucking life?

as pequenas vítórias

As pequenas vitórias me incomodam.
Me tocam de uma forma intensa, desajeitada
me provocam engulhos e incertezas
as pequenas vitórias,
mínimas, micro...tantas vitórias.
As menores vitórias - tão profundas-
uma cisão
na rotina de derrotas e fracassos,
as menores vitórias são promessas de começo,
memórias esquecidas
histórias de progresso,
um processo melífluo de sonho e canção,
um gosto de medo perdido no canto da boca,
uma saudade latente,
um gesto perdido em meio a tantos sinais.
As pequenas vitórias me emocionam,
me fazem sentir os olhos úmidos.
o peito arfando...
As pequenas vitórias me encantam
e também me desesperam
de forma inconstante e presente.
As pequenas vitórias me embriagam
me dão tremores no corpo
me fazem rasgar a roupa e sair nú pelas ruas dos meus sonhos
gritando, gritando...
As pequenas vitórias do meu mundo
são mesmo pequenas,
bem pequenas,
são menores do que se imagina
e se anda propagando por aí,
mas são minhas.
pequenas.
são as melhores vitórias que pude conseguir.
e são tantas
que agradeço e persisto...nú pelas ruas dos meus sonhos.

Sunday, March 29, 2009

Augusta St.

De repente a razão enlouquece.
passos largos, nefréticos, paranóicos.
surpresas insanas
metonimias
anagramas
há um tanto de qualquer coisa no ar.

De repente a razão ensurdece.
sons confusos, diáfanos, melífluos.
vozes que ecoam
embarques
desembarques
há um tanto de desespero no ar.

A cidade que não é mais a minha retorna
pulsante
vibrante
e observo a juventude que tive transfigurada,
engajada em movimentos inúteis,
ideologias yankees,
contemplo a cidade entristecido
pois já não sei mais os caminhos
que me trouxeram até aqui desde ontem!

Friday, January 30, 2009

DEVANEIO OBTUSO

agora reflito sobre meus desejos,
no escuro da noite eu reflito,
e repenso o tesão e o amor,
a lâmpada e a estrela,
a cor e a fumaça.

não ouso em relação à profundidade
do que sinto, porém, não temo a
vergonha e a solidão dos que tanto
querem. (porque não quero)

nunca é completo um desejo,
sendo que existem tantos,
portanto não gosto disso ou daquilo,
eu gosto de tudo e odeio de tudo um pouco.

e quando me entrego e fico a deriva
margeio o inconsciente rebelde
que luta contra mais uma ferida aberta
na carne do corpo sentindo desejo.

à margem das coisas que eu sinto
está o que também sinto e não confesso,
porém sinto, em relação ao que é profundo
uma grande vontade de me atirar
e morrer (de novo) em seus braços
que sempre estiveram a impedir a queda.

Lamento não morrer agora.

CONCLUSÃO

Primeiro
o sol (sem licença)
irrompe em cena:

- Ela me disse que o amor
é uma ilha deserta
repleta de lobos vorazes
e suicidas.

e eu disse que o desejo
é um coração sangrando
guardado (em éter e vodca)
em um vidro de maionese.

Depois
a lua (tão triste e branca)
toma o lugar do sol:

- Ela me disse
que o passado é o cometa
vadio da história do mundo
(ele passa e passa).

e eu disse que tudo
é mentira e felicidade
enquanto nos amamos.

Então
o céu explode de tanto sol e lua
e ela me disse:

- Cometa o absurdo
do amor sem ciúmes
e isso não é amor que se ofereça.

AQUI SÓ

me deixem aqui
sozinho
pensando
na maneira
mais doce
de dizer adeus.

me deixem aqui
triste e sozinho
pensando
no que ela
não pensou
e partiu.

me deixem portanto aqui só.

MORE AND MORE

Algo mais que um momento
qualquer
que se tenha vivido
uma noite qualquer.

Algo mais que fosse
um medo da vida
e de uma morte
qualquer que se tenha.

Algo mais que o espaço
pequeno do quarto
onde se espera
o exato momento
de ser feliz,
qualquer que seja
a felicidade, ou,
algo mais que ela mesma.

Algo mais que se diga
ou se saiba
a respeito das coisas
de qualquer maneira
algo mais que se tenha perdido
e ficou incrustado na rocha

de um momento qualquer.

MENSAGEM

CONSTRUO

FORMAS

DE

NADA

QUE
SÃO

TANTAS MANEIRAS TOLAS

DE

DIZER

AS COISAS TODAS DO JEITO CONCRETO E

SEM JEITO

QUE EU SEMPRE DIGO E VOCÊ NÃO

ESCUTA

DO JEITO QUE EU QUERO

DIZER.

THERE WAS A NIGHT

A noite é
a privada de todos os sonhos
que por ela escoam /escorrem
e então amanhece o tempo e
o dia
impropriamente
higiênico - etéreo,
um tempo intranqüilo
de coisas vazias
um tempo de tudo
um dia de merda.

DE QUANDO EU JÁ TE AMAVA

é loucura
imaginar
iluminar
o luar
da rua
assim
tão clara
e nua.

é loucura
imaginar
sua paz
serena
(e amena)
e a carne
e o meu
poema.

é loucura querer seu corpo e sua alma
banhando meus desejos de voar pra sempre.

é loucura
imaginar
o mais carnal poema
que tenha sentimento puro de
se estar aqui prá sempre.

é loucura
imaginar
que é loucura.

FIM DE NOITE

Entorpecido
vagueio
esquecido e
prometo não chorar...

invento uma desculpa
e grito,
odiando estar aqui sozinho.

Entorpecido,
procurando na noite
a mulher que eu não tenho,
vagueio
esquisito e
prometo não chorar...

esqueço a poesia
e, num ato final,
envolvo um copo frio
de uma bebida quente

e trago um cigarro (medíocre e inconseqüente)

e já não sei porque estou aqui...

Entorpecido.

ESTA CIDADE (Bauru-SP)

Na cidade da solidão
repenso os versos de ontem.

metade do que sou
eu nada sei
e, por tudo que acredito
eu vivo a metade do que sou.

está faltando um pedaço
que eu perdi algum dia
em alguma cidade passada,

está faltando demais.

Notícias vêm de longe
e longe tudo acontece.

Sometimes I think that I'll
never more see your face,
I think on your red lips,
I remember...

Na cidade da solidão
repenso versos que escrevi,
e sinto saudades de tudo.

ÚLTIMO POEMA

é pelo imperativo do que sinto
que as palavras que eu digo
ecoam pela cidade
e me voltam vazias e sem vida.

(o auto-poema nunca é uma farsa)

é pelo imperativo do que sinto
que ouso esclarecer o passado,
passo a passo
e esboçar um sorriso (tímido).

- não mais dissimular sentimentos
com versos confusos e olhos baixos.

(o poeta se despede da poesia,
todo dia, todo dia.)

é chegada enfim a hora,
quando voltar é ter que ir
e já não representa mais chegar,
porém, fugir.

um beijo...adeus
(mente quem diz que o poeta é um fingidor).

DEPOIS DO ÚLTIMO POEMA

A rima caótica em meu pensamento
não pulsa no compasso
da veia carótida ligada ao meu coração.

receio a pieguice
do verso romântico,
mas é assim que eu vivo,

e,
as palavras confusas que uso
declaram assim
tudo que sinto
e você fica assim
nessa impassibilidade eloqüente
de musa perfeita
dos meus poemas sem fim.

porém eu insisto em não dizer nada
e,
covarde que sou
aguardo ansioso
que tudo aconteça.

sou apenas agente dos meus versos

e vítima dos seus olhos.

JUST A LITTLE BIT MORE...OF LOVE!

O amor, poucos se lembram,
mas devia ter sempre
o gosto do medo
que só o não de quem se ama
provoca.

A sensação de pânico permanente
frente à perda,

(o amor se perde, por instantes,
e se volta a ter, sempre !)

O amor, poucos sabem,
devia dar sempre a impressão
de pedaço,
fração da eternidade
no tempo finito
de nossa vidas
que se cruzam.

Do amor deve se falar
sempre,
com a consciência plena,
mesmo que poética,
que cada vez mais uma vez
e de uma maneira,
cada vez de um amor igual
e um diferente,

com a sensação plena

de fuga

em direção

ao encontro.

CONSTATAÇÃO

Amanha,

quando você acordar

e eu estiver distante,

então seremos menos felizes.

Neste momento,

mesmo com o desejo

latejando ainda em nossos corpos,

a saudade já será clara,

delineada em palavras, figuras,

pernas, coxas e dedos.

- A saudade já será toda nossa.

Amanha

tudo será de novo

como sempre foi,

antes e depois do amor

e depois de amanha

estarei de volta,

mas já não seremos iguais,

porque hoje nunca é todo dia.

CENA

Ver-te

nunca mais

hoje.

Era triste a cena

embriagada

amena a tarde

porão de madrugada.

Ver-te

nunca mais

ontem

como o vento na vela da procissão

a chama que cala o grito,

mas se propaga

intento vão.

Memória fica na palavra

largada ao muro

em um gesto doce

como uma lâmina em meu pulmão.

DE BOCA ABERTA

Na janela abro

os olhos

e
a
boca e

vejo

qual nada vejo e venho às pressas

venho e vejo

que nada o que!


Ousar um grito na janela

usar o corpo nu - vulto

visualizar imagem

sangue - precipício

me precipito e sonho.


QUAL NADA VEJO E VENHO

COM A LUA

MÃOS DADAS,

AVANTE !

POIS A MORTE NOS ESPERA AMANHA.