Saturday, April 24, 2010

Vida

meus dentes se cravam
em sua carne alva
que se inunda de sangue
que jorra incessante
que pulsa feroz
que é mais que poesia
é vida, é vida.

Vazio

obstáculo a frente
a fundo
a fenda
em meio a tudo
-interrompendo
a poesia
no fundo
um buraco
de qualquer tamanho.

Coisa

coisa
pouca
tola (a toa).

a vida navega
tormentas
escândalos
despedidas

coisa
tanta
tola (a toa).

Estar aqui

e se eu não estiver aqui
amanhã,
depois,
em algum momento
eu não estiver?
o que será das coisas,
da solidão dos sentidos,
dos edifícios
inacabados,
das palavras silenciadas,
dos tantos anagramas
desconstruídos?
o que será dos sons,
do medo (da morte),
da vontade de voar,
do olhar no vazio?
o que será da alegria
de estar aqui (com você) todo dia?
o que será de mim
quando eu não estiver aqui?
serei lembrança ou pergunta sem resposta?
esperança de volta ou um largo gesto de adeus?
saudades ou um poema esquecido
em meio a rotina incessante da vida?

Friday, April 02, 2010

Pieces of everything

o que fica daquilo que fomos?
quanto somos daquilo que fica?
há verdade nos resquicios de um sonho?
há mentiras nos recortes da vida?
o que sobra do quanto sonhamos?
o que sangra do quanto sabemos?

há verdades nos pedaços do mesmo
sonho que recorta a poesia
que ainda assim não entendemos.

Angústia

Abandonar as rimas lisérgicas de outrora
à própria sorte,
autônomas,
e deixar que fluam através do tempo
sem antes nem depois de nada.

De forma amena e singela
escrever uma carta ao passado
agradecendo as certezas de tantas dúvidas
projetadas no tempo que foi passando,
desavisado e simples, monótono e verdadeiro.

Recalcitrar determinações prévias
e mesmo alijado das rimas poetizar
o dia que amanhece em meus olhos
e cantar em versos os (tantos) segredos de ontem.

deixar escorrer pelo ralo da memória
a angústia do tempo que passa,
-estancar a verborragia inútil-
simplesmente olhar para trás
e fingir que não escuto
quando peço socorro.

Seguir meu caminho sem fim,
sem rumo,
sem nada.