Monday, February 11, 2008

" ABSURDETO "

Meu absurdo é
este poema que não escrevi
a saudade de um tempo que não vivi
e tão pouco já (mais) te amava.
é a dificuldade que encontro
ao contar minha história,
a lama na sola do sapato descalço,
a incongruência dos traços do meu caminho.
é do tipo fatal, cruel, mas, às vezes
(por poucas vezes tantas outras)
vagabundo, quase felino.
meu absurdo é de mascarar verdades,
de andar nos entrepassos, de voar,
fugir ou
ficar aqui.
meu absurdo é a solidão dos sinos
que batem - blém - a hora,
da porta aberta,
do meu absurdo.

DOS JORNAIS DE HOJE

Meu amor:
- as andorinhas não mais cantam
nas janelas,
são outros sons,
outras palavras,
obuses meteóricos, meta-eufóricos,
núcleos, outros ares.
Há fome na Etiópia,
" apartheid " em Pretória,
nosso país não tem memória !
AS ANDORINHAS

SE
REVOLTAM
NOS

FIOS
DE
ALTA
TENSÃO
DAS

CERCAS
QUE
DELIMITAM
NOSSO

-VASTO-
UNIVERSO.

CAMINHOS (por entre estrelas)

uma luz que já não sou
porém brilho a própria luz
na janela...
fatigada a imensidão do cosmo
perdido,
em sua grandeza de menino.
e como em toda viagem fica um passo...
é quando te concebo imagem
e escrevo em areias cristalinas
todos os versos de vida que puder encontrar
- enquanto me passa a vida...
só sei que em toda viagem
fica um passo que não vou dar.
- enquanto me passa a vida...
Na janela onde fecho os olhos
e vou te sonhar.

DESEJO

se me deixares cantar
por certo sentirás nesta voz
outras vozes cantando
todo onírico entardecer
em palavras e sons da memória...
pois saiba que a vida se mostra
lobo em boca de lobo
e que a vida se não se gosta
não há porque desbravar
mistérios em teu corpo
ou imagem no muro,
e se não me deixares cantar
ficarás também em silêncio,
esperando, quem sabe,
que eu irrompesse em cena
lastimando desejos vorazes
e dores desertas, incompletas.

BARRACO

A
PORTA
NA

FAVELA

DO
MORRO
ABRE.
abre porta, abre torta...
EMANA

DAS
VÍSCERAS
ANÁRQUICAS
DO

SOL
QUE

NO
MORRO
NÃO
TEM,
mas tudo é tão próximo,
UM

CHEIRO
DE
LEITE
AZEDO
NO

PEITO
DA
MÃE
LARGADA
AO
MURO.

NA PORTA DO BARRACO DA FAVELA
TEM UM SAPATO RASGADO DE MENINO NOVO
E ELE SANGRA...

abre porta, ave ...

BIG CITY

A cidade lenta
pulsa
mente
ação
e todo sentido
se encontra

após o jantar dos mendigos
jantar com mendigos, vociferar aos urubus...
Proteger-se no sub-solo
das galerias do centro
e queimar todo o resto
das palavras em palavras vãs,
como o coração que voa,
ABAIXO AOS MENDIGOS !
E os papéis vão se juntando
à mesa do poeta e já não cabem
mais na sala, no quarto,
no ralo do banheiro...
e te consomem até o último poro
como se o poeta fosse uma puta,
velha e seca.

AO MEIO DIA

Nas esquinas faz-se tumulto,
nos bares já não é suficiente
a birita,
nos colégios os padres rezam
ao meio dia
e se martirizam nos corredores,
já não há palavras tantas,
mas se fala muito em todo lugar...
(nesse coração resta uma esperança)
Um anjo abaixou as calças
em frente ao Bordel da Aurora
ficou um resto de medo nos olhos do anjo
que não era loiro
e no meio das pernas do anjo
havia um sol amarelo de ofuscar
vitórias de poeta sem escrita,
e a puta mais velha relembrou
o jardim de todas as infâncias...
E o sol do anjo, no meio das pernas, brilhava
enquanto tiros de canhão explodiam
na primeira travessa à esquerda...
(nesse coração resta uma esperança vã)

"SHOPPING IMPRESSIONS"

Deliro a morena
passando
na frente da mesa
do "fast-food" chinês.
- They can also do it.
In English, of course!
Fantasio no xadrez
do frango no piso
o delírio da gata-morena
que passa e à cada passo
some em meio ao barulho
que tudo insiste em fazer.
Passeio com todos
prá nada que valha,
mas tudo vale
estar-se aqui esquecido
do mundo lá fora,
que não é só a morena,
só o delírio,
mas que eu também fantasio.

DA LUZ DA LEMBRANÇA

Que a língua revolva e lamba
o cabelo dela (vermelho da luz da boate)
e faça outros pêlos eretos
do corpo - na língua -
saltarem assustados e aflitos
com a seiva (lambida).
Que a língua saiba de cor
os contornos da orelha atrás
do cabelo dela (laranja da luz da manha)
e que conte segredos
das coisas - da língua -
tantas mentiras e solidões.
E que se fale do jeito que eu gosto
a língua do homem cansado
e refeito do medo de tudo
que sente e toca com a língua.
Que se cante com a língua dela,
que se molhe (ela) com a língua
toda (vermelha da luz da lembrança).

Friday, February 08, 2008

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Wednesday, February 06, 2008

A TRAJETÓRIA DA RIMA

Universo abjeto e difuso

de ritmo.

O rumo de cada tragédia cotidiana

realizada,

o ruído,

a risada,

a palavra de apreço e a ruína. (a poesia ?)


Há um caminho ao verso

ao avesso do verso

Há um pouco de realismo em tudo que somos.


A realidade trágica da poesia é o oposto

a tudo que fomos.


Um pouco de saudade,
um resto de canção,

resquícios da imóvel sobriedade de sons
que se combinam e se enlaçam e se completam,

modificando-se.

Impulsos transitórios de medo,
espaços vazios entre espamos (desconexos).

FORMA/AÇÃO

As formas que eu sei
de dizer
desenhar
palavras
são muitas e única
como é única toda
forma
pessoal-canção
memória
tristeza
-solidão
e afins.

E seu uso
a forma única-
padrão doze por oito

é
que você-
anagrama
coração age

sensação ação sentida
palavra que não sei

porque
assim
você
não
entende o que digo.

Perdoe a mediocridade da poesia,
mas ela é o espelho do mundo.

SERIA UM VERSO DE ADEUS, MAS NÃO DEU!

Me abstraio no ato e te consumo como um raio
abstrato...

(quisera ver teus olhos no momento exato do adeus
no brilho de sonhos fugazes e desejos inocentes,
assim que ensaiaram a primeira lágrima.)

Me assumo impotente a seus olhos (nus)
e persigo o instante do ato (falho)
e é tudo assim tão solto e desprendido,
tão gesto casual,
é tudo tão palavra e pensamento que me admiro
incoerente à seus olhos e prossigo.

(quisera ver teus olhos neste instante de adeus
solitário)

E me abstraio ao ato e sobrevôo a cidade
escondida por entre os cabelos do teu sexo
e gozo o imperdível gozo de amor frustrado
e me condeno a morrer intranqüilo em seus braços
que me sufocam (e me afagam) aos pedaços.

(pudera viver um momento e eu diria que fosse
um momento de amor!)

A seus olhos me confesso inocente de tanto amor
e lascívia, mas meu coração (se) me entrega
e trai (me) a seus olhos, enquanto beijo a foto
sobre a mesa de centro da sala de estar
e não há mais o que se diga e (finalmente)
me condeno a morrer (de amor) com você...
Adeus...




(Nov/1988)