Sunday, June 26, 2011

Cego Amor

Meu amor não é mais cego
e enxerga você como é
com falhas, limites, cheiros, 
angústias, tristezas, lamentos,
esquisitices bizarras.
Meu amor enxerga o que está a frente,
distante, ao longe, ao largo, adiante.
Meu amor maduro 
(de tanto tempo que amo
de tanto amor que sinto)
te ama cada vez mais
porque não é mais cego
e ama você com tudo que é
porque não seria amor,
não seria você,
não seriamos nós,
não seria tão bom.

Friday, April 01, 2011

Alegoria

o que eu faço
aos pedaços
e passos
é só
o que eu faço e
se fosse poesia
seria incompleta
como é a dor
e a cidade vazia.
se fosse poesia
seria inconstante,
de forma abjeta
(seria
de mim
um pedaço
extraído),
alegoria tardia
de um carnaval
esquecido...
se fosse poesia
talvez eu fosse mais feliz.

Falha interrompida.

um dia
qualquer destes que passam por aí
quis ser um debochado leminsky
e dos lugares comuns e chavões
troquei de lugar raios e
sensações;
depois tentei baudelaire,
simbólico, mefítico, sexista,
jurei mentiras em laivos de
saudades;
visitei kerouac
narrativo e imberbe,
perdi um irmão e saí
vagando por ruas estreitas,
antônimas,
procurei os amigos ginsberg
e burroughs em vão,
sentido sem sentido,
melífluo desprazer,
rio vermelho que escorria
dos meus olhos em prantos
-lisérgico-juvenis;
tateei o obscuro medo do conhecido
e tentei mayakovsky
revolucionando a mesmice
em opções básicas,
simples, práticas,
poemas mecânicos.
esqueci de mim
em meio a tudo que tentei,
busquei,
falhei...

Tuesday, March 08, 2011

Sonhos

ontem tive medo de dormir...

hoje me apego a sonhos incompletos
para impedir a chegada da manhã,
meu pesadelo rotineiro.

Manhã Qualquer

Haverá um momento
em que seremos passado,
obscuro em seu meio,
pequeno pedaço de tempo,
lembrança tardia
em uma manhã qualquer.

Haverá um momento,
distante no tempo,
em que seremos apenas
notícias vazias,
inócuas, perfídias,
em uma manhã qualquer.

Haverá um momento
que não teremos manhãs,
lembranças, notícias, espaços,
...apenas saudades.

Friday, January 14, 2011

Nada

tentei escrever
um poema
sobre nada
e foram tantas
as palavras
verbos
rimas
quadras
anagramas
metonimias
e saudades
(porque a saudade é um vazio)
que deixei tudo em branco
e fui dormir mais um pouco

Ocular

ver
tão simples
e tão pouco

(enxergar)

de olhos fechados
a escuridão
fica tão mais bonita.

Pedaço Qualquer

cansei dos amigos de outrora,
dos velhos amigos de sempre,
cansei de todos os amigos que tenho
que nunca me ligam, nunca me escrevem
que me sabem cativo da amizade existente
e dela não cuidam.

cansei...

quero novos amigos
que se enterneçam com minhas lágrimas
que acreditem na minha poesia
que se assustem com minha agressividade gratuíta,
palavrões desnecessários e minha
violência inútil e fora de sentido.

preciso de novos amigos
que se surpreendam com meus arroubos
que não entendam minha melancolia

que não saibam de mim
um pedaço de mim qualquer

para depois de algum tempo
me cansar deles também
 
pois sempre acabam espelhando
um pedaço de mim qualquer.