Saturday, November 17, 2007

LEGADO

deixo um legado
de nada,
deixo palavras,
papéis
e saudades.
(saudades?)
deixo poesia,
pretensão
e hipocrisia,
deixo
a casa vazia,
solidão
e fantasia,
deixo
o pé descalço,
ilusão
e putaria.
deixo
um pouco de medo,
revolta
e tudo mais
que eu não queria...

PLURAL

Plural
de um:
-uns,
(muito
mesmo
ou
alguns).
Plural
nenhum
(muitos
que
até
mesmo
outros)
plurais
de alguns
(todos

que
plurais
são tantos

SAPIÊNCIA

saber saciar a sede
que mata
saciar a fome
que mata
saciar a vida
que mata

saber saciar o desejo
que mata
a fome
a sede
a vida.

SHIT-TALKING

Eu digo à Ela:

-esqueça o que eu disse!

e Ela diz:

-não esqueça o que disse!

e ficamos pensando

por que dizemos tanto

se precisamos,

o tempo todo,

esquecer

das coisas que dissemos?

SIGNS

Símbolos,
o que me importam
se são tantos
e se preocupam você
ao extremo do que são?
da cama que eu uso,
sua posição em relação ao sol
à porta de entrada do quarto
com quem durmo?
por que?
da marca dos cigarros
que ávidamente consumo,
a cor do filtro
diametro, comprimento
o teor de elementos cancerígenos
por que?
Quero saber dos sonhos
que tenho à noite
enquanto e quando durmo,
quero a vertigem do pesadelo inacabado.
a sensação de prazer quando os olhos se abrem
um pouco do medo que fica quando os olhos se abrem.
Quero as nuances da fumaça no ar
(cinza-avermelhada)
totalmente etérea, vazia no ar,
perfeita, imune à tudo que paira no ar,
que brinca entre meus dedos
travessa e tranquila
e se perde
em meio à tudo
que não é símbolo
de
nada
e não representa
nada,
mas vive e pulsa pelo ar
para sempre
posto que o eterno
não se desgasta.

“SOME NEWS, NO NEWS”

contrastes - contínuos
constantes
estilhaços que voam
- pedaços.
anúncios classificados,
escândalos,
escândalo cifrado.
O poema naufragado ressurge
- enfim -
á beira das águas que banham
não sei quantos
quartos da terra.
Notícias de longe,
imensas, imersas,
de outros cantos,
outras terras...
Fragmentos de versos
nos bolsos puídos,
papéis amarrotados,
maculados de sonhos
e esperança tanta
que eu tinha.
- pedaços.
Abrir os jornais,
é dia...
Devo ler as notícias
- todas -
que não me importam,
bem como a cidade industrial
que já basta o que fabrica
- multiplica e ecoa
detritos incoerentes
de processos diversos,
intermitentes,
que se povoam e
se devoram.
Abrir os jornais,
é dia...
Devo ler as notícias
- todas -
dos jornais do dia
que não é hoje
é um outro dia,
o que também
pouco importa,
mas que me deixem sonhar
mais um pouco
- posto que é dia
ainda -
mesmo que seja
aprisionado nas quatro
paredes do quarto
que dorme,
mesmo que seja
acorrentado às convenções diversas
de espaço delimitado,
mesmo que seja assim,
que me deixem sonhar
mais um pouco, apenas...
mais um pouco...

“DO RITO GESTUAL”

Renunciar
- total e completamente-
aos gestos de costume,
rotineiros,
à tantas ações de movimento
planejadas,
meticulosamente calculadas,
extraídas de conveniencias
socialmente irrepreensíveis,
estudadas com afinco,
manipuladas, maquiadas.
Renunciar
- plena e absolutamente-
à bizarros trejeitos antiquados,
à mesmice obtusa, diversa,
aparvalhadamente observada,
copiada ao longo dos anos passados,
mal vividos,
inaproveitados.
Ousar
- ao menos uma vez que seja -
um gesto
novo,
irremediavelmente novo,
mas
evitar também
que seja assim de pronto,
imediato.
deve se tocar a alma
no mais fundo que se possa
com as duas mãos
em tempo igual
no mais fundo que se possa
e,
da profundidade maior
obter um breve rascunho,
uma minuta mal feita,
um plano sem estratégia,
mas que tenha a imagem da alma
e um tanto de cor de alma também
- imprescindível combinar
matizes variadas, perplexas,
atônitas, rebeldes e ordinárias -
e jogar tudo isso na
cama mal arrumada
do domingo de sol,
em meio ao dia de sol,
- dissimuladamente inútil
desprezar a invenção das horas,
dos dias de domingo de sol -
e alí deixar-se, imóvel, observando
coisas,
espantando-se,
regozijando-se com a perspectiva
de progresso que só o início
das coisas pode nos fazer sentir,
refletir um pouco
sobre tantas possibilidades,
sobre muitas posssibilidades,
procurando deter-se
absolutamente no processo
de descompromisso assumido
em nosso pacto com a ousadia
de criar
um gesto
novo
- ao mensos uma vez que seja -
Então começar à juntar
as coisas,
desorganizadamente unir
diferentes formas
e cores e sentidos outros.
Desvairadamente apoplético
deliciar-se no “croquis”
obtido,
já quase um gesto,
meio que um lampejo
de ação inciada, esboçada,
dinamizada sob a ótica
da alma,
do mais fundo que se possa.
- não permitir confusões
(normais) entre a dinâmica
e o idealismo,
mesmo que o verso exija -
já quse parir
o gesto
novo...
Antes porém é necessário
contrair-se o ventre
e respirar um pouco,
atingir a temperatura e
posição ideais à seu intento,
que nunca vão,
e respirar um pouco
mais de novo
num crescendo, lento e descompassado,
deixar suar a testa
e o dorso já desnudo,
molhado.
Deixar fluir odores,
grunhidos, metáforas
sintonizar parábolas
e as fadas dos contos
distantes -
captar os sinais
do mais fundo que se possa -
metamorfosear
transcodificar
inversamente traduzir
repetir à exaustão
o respirar mais fundo
do mais fundo que se possa - de novo -
E fazer nascer
o inédito gesto concebido,
aninhá-lo de encontro
ao peito,
acalmar o coração
levado a seu limite
- apoteótico coração poeta -
E fazer viver o gesto, mostrá-lo ao mundo,
distribuí-
lo
em
capítulos,
assim que houver patrocínio.
E
gesticular,
- imensa e absurdamente -
o gesto
novo,
autorizando seu consumo
exagerado,
seu uso
indiscriminado,
aceitando
seu vício
incontrolável
e
abrir mão
da patente
discutindo contratos futuros,
indenizações,
responsabilidades,
garantias...
e
renunciar
- de novo ou
sempre que possível -
aos gestos de costume,
rotineiros...

Sunday, November 04, 2007

VIDA

fica um pouco de vida
nas linhas tantas
da folha seca,
e de amor,
nos instantes
de toda noite.

AOS NOSSOS FILHOS - (18/10/84)

Isto é que você não pediu nada
nunca minta a nuca gelada,
a madrugada te oprime/imprime e
você pesadelo minto desolado.
Todos juntos nós, cada um por si e só,
nunca minta voz !
minta imita a voz ativa,
ávida a via da vida aflita
que só carrega em tua Mão a estrela matutina,
ladina cadela puta sem dentes na boca
sifilítica.
A estrela vagabunda se sou sem sol maior
num bequadro sincopado a melodia barata.
Nessa pedra de caminho há um outro caminho
por entre nós, e, por entre as pedras no caminho
há outras pedras que não a tua velhinho
sozinho/sozinho de granito sentado na banca
de jornal feito estátua que é só o que você
sabe ser (sim/não).
Na tarde chove molha a boca do sal da tarde
latrinas de papel embosteadas
nuvens e poças de sangue
em nosso " artificial heart "
as janelas iluminadas inanimadas iluminadas
do edifício são pedaços, estilhaços sociais
na noite sem piedade,
os que caminham escarros dos sonhos diários,
são metáforas de poetas medíocres ao mundo.
No meio do fio começa um novo fio de uma outra
trama neste drama absurdo que vivemos em nosso
teatrinho de revistas.
Já somos muito antigos, já bebemos muito vinho,
já amamos demais e fomos "beats", narcisos,
"punks",essencialmente existencialistas, édipos,
"by the peace everything",marxistas capitais,
lost in Abbey Road na BR.116
e até hoje nada fomos além de sermos o nada,
sempre livres nas amarras do sonho, fomos elos,
metonímias, anagramas...

INCOERÊNCIA

O AMOR
É
UMA
INCONSEQÜÊNCIA
POÉTICA
CHEIA
DE SEGUNDAS INTENÇÕES.

POEMA DO EU

meu poema

são dois

um sou eu
o outro adeus.

PROCURA

Todas as coisas
que são feitas
por amor
devem ser perdoadas,
mas que amor é esse
que a todo momento
tem que se perdoar ?

Procura-se um verso
de amor sem perdão
que complete
a poética das coisas.

CICLO

Cativa
ativa
cata a vida
pelo pescoço

e mata (a) ela

INSTANTE (II)

Gritar você

a noite escura

me ver

sozinho,


gritar calado.

INSTANTE (I)

O poeta procura
uma praça com ar antigo,
em um tempo antigo,
de uma dor antiga,
onde possa realizar-se um novo poema.

GRAMATURGIA

ENTRE PARÊNTESES

NOSSOS CORPOS SE ENLAÇAM

HÍFEN

O AMOR E O ÓDIO

SE ENGANAM.

SE HÁ ALGUÉM...

sou um lobo sozinho,
perdido,
à noite.
e se há quem diga
que sou um lobo
sozinho
já não há mais
solidão
à noite.

MEDIDA EXATA

Hoje constitue-se uma data
extremamente importante
em meu calendário
de datas importantes.

Faz exatamente noventa e sete dias
que cada dia é um mesmo dia
após o outro,
como se não fora esta a lei
que rege as datas.

EYES

um velho decrépito
senta no banco da praça
mastigando pipocas
em suas gengivas afiadas...

de repente
vê as pombas ao seu redor
e tem desvarios de liberdade.

WHAT ABOUT YOU ?

você vê a coisa toda
como é
que você vê a coisa
toda.
você é a coisa toda
ou prefere apenas
uma ou outra coisa?

cabe uma pausa
para que você conclua:
que é a causa (toda).

CONSTATAÇÃO

CUBRA UM OLHO SÓ E VERA TUDO IGUAL
COM UM SÓ OLHO.
VIVA UM TEMPO SÓ E VERA TUDO MAL
EM UM SÓ TEMPO.
SINTA UM POUCO SÓ
E ENTÃO ME DIRÁ
QUE SÓ O QUE QUER É TER ALGUÉM A SEU LADO.

RECUERDO

Desejo
(não pretendo enumerar situações)
claro-escuro
descoberta
(a infindável promessa de muito).
tudo escuro.
sentido.
(a memória é uma merda)
mas eu desejo de novo .

ANOITECENDO O SENTIDO

o sol penetra a cortina do quarto

que sou (há sol ?)

e se põe à par do que acontece
comigo.

O sol é vermelho
e meus olhos escuros.
A cortina é vermelha
e o amor vagabundo.

MUDO

tenho
tudo,
contudo
a voz cala
e eu fico,

absurdo.

DESEJO II

a boca é a lâmina doce
que corta meu lábio
quando beijo a boca
a lâmina é doce
e corta meu lábio
quando sono-acordado
e mordo a boca dela.
é doce a boca que beijo
sonhando, meio assustado,
com aquele beijo
(nunca dado).

WITHOUT YOUR ARMS

ficar aqui
lugar nenhum
estar
somente.

morrer aqui
lugar nenhum
viver sonhando.

falar aqui
lugar algum
(creio que não seja necessário)

DESENCONTRO (23/04/90)

Maldita a mulher
que eu quis ser
o amor dela
e não pude ser
tudo dela
que eu quis ter
e não pude nunca
o amor dela saber
se eu podia.
Maldita a mulher
que eu sonhei ser
todo dela
o amor que era meu
e ela não entendeu

POEMEXPLICATIVO

Dirás que a palavra
não te bastas,
haja visto que não a digo
nunca mais, porém
é vero que a palavra
se desgasta,
se amarela com o papel. (ao sol)
Dirás sim que o amor
não te bastas,
mesmo sendo o amor
coisa irretratável
e eterno...o meu amor.

POEMAÇÃO

a velocidade da paixão
no homem é
relativa à forma e
ao feitio das palavras
posto que o poema
é ação
no momento exato
da saudade.

NOTHING MATTER - (01/11/88)

as coisas são o que são
e
quando não,
são o que eram,
mas,
a mim não importa
presente, passado,
pois,
no futuro
que se abra a porta
e é tudo uma coisa
só...

JUST TO READ (DONT' THINK ABOUT IT) (05/02/90)

Imagine a cidade sem luz,
imersa no mais escuro de tudo.
Agora repense o último ano
da sua vida,
da maneira mais sincera ou previsível.

Conclua então que a vida
confrontada com o mais
escuro de tudo
guarda em si ainda mais segredos que

é melhor acender a luz

em meio a este pseudo-poema.

POEMA MAIOR

Eu
Amo
Você .

(mas sem a inútil
e desprezível
coisificação
das palavras, verbos, adjetivos
ou quaisquer outras moléstias lingüisticas)

PRISÃO DE VERSOS

Não fosse o claustro
eu faria um poema
sobre a justiça cega
dos homens-lentes
que enxergam tudo
menos a justiça,
falsa e ausente,
feita aos poetas
que nunca mentem.

INCOMPLETO II - (11/09/90)

são duas coisas


que me fazem falta


neste início do poema:


VOCÊ e


algumas palavras


para que eu o conclua.

FROM HERE TO SOMEWHERE

nós dois nós um


em ZOOM


a imagem te engana


na cama.

THEY DONT'HAVE THE WORD

Wally said on a TV program:

- Que seja abolida a saudade !

Wally said and I was there,
lousy and crazy and amazed,
and there, on that moment
I felt what he was not feeling,
just saying as some shit-talk.

Wally was there and he said:

- Que se exclua a saudade.

And I shout, trying to ask
and to shot that Wally:

- Man! What'm gonna do
with my poems?
All those words I wrote to her ?

Tell me now

o que é que eu faço agora ?

Pois se a saudade acabar
eu esqueço dela e de tudo?

Could I allow myself to forget
a kiss?
the first one she gave me.
and the body of all my dreams,
do you know what'm gonna do with ?

I know what to do:
Turn off the TV...

e esquecer - com saudade.

THIS IS ALL I CAN SAY,BUT NOT WHAT I FEEL

Todo amor que se sente
trafega,
plácido e imune,
vertigem e matéria,
em meio aos olhos do mundo.

Não basta transformar o instante
em qualquer coisa eterna e descartável.

Deve se deixar sempre
a carne sentir o prazer da mordida,
enquanto desejo ou sentimento voraz de paixão.

Todo amor que se sente
deve, sobretudo,
ser devorado até a última gota
do sangue,
vermelho e viscoso,
que escorre dos lábios.

(é imutável o dia após o dia
desde que a vida se limite
a ser simplesmente mensurada).

Deve se ter presente
que não há desejo incompleto,
porém o amor mascarado;
não há mais espaço ou tempo,
porém paixão e saudade;
não há, nunca haverá,
o amor sem consumo de si
e o amor que se acaba,
pois,

todo amor que se sente...

MAIS UM POEMA DE ADEUS

Palavras !

quem dera tudo fosse na vida a palavra.

o som mais claro e possível

de tudo seria apenas palavra.

signo símbolo elemento.

E assim, a verdade de tudo
a palavra traria. (trairia ?)

Então a ação da palavra

faria o silêncio

e então seria o vazio,
de tudo seria o vazio.

No mergulho infinito

em direção a apenas

as duas últimas delas:

- AMOR e ADEUS !

A MÃO QUE NÃO ME TOCA

"Voar,
trafegar incertos olhos
vadios na noite."

A mão que afaga meu cabelo
é doce como a chuva e o desejo.

As ruas passam confusas.
(e foram tantas as ruas)
e é minha mão a que me toca
e flutua
à espera de que alguma coisa aconteça.


Concluo que não basta
semear o amanhecer,
é necessário que esta noite
saiba, impreterivelmente,
a verdade sobre tudo.

Minha mão, a que me toca,
faz com que eu me sinta
quase que feliz,
com os olhos fechados,
quando imagino não ser minha

esta mão que me toca.

"voar..."


(and your hands were there,
but was too late
when I got it.)

POEMA PRÁ NADA

Agora que o tempo é passado,
as mãos estão tremulas
e a dor que eu sinto
é uma realidade;

agora que os tempos são outros
percebo que muita coisa acabou

Agora eu percebo
que as pessoas
vivem me perguntando
se não sou outro,
um fulano de tal,
e constato no espelho
um rosto vulgar e comum
igual a tantos outros
na rua,
cuja identidade é apenas
um número
de cédula
que eu jogo na fogueira
dos meus pensamentos
e que se perde em cinzas
e se acaba
como eu e este poema,

completamente desnecessário.

POEMÁTICA

Se, ao invés de poemas
eu escrevesse problemas,
estes seriam equacionados
em partes distintas,
quatro partes
dispostas assim:-
- A primeira parte
uma questão clara
e concisa:

-Quantas mulheres você já comeu ?

Feita assim, selvagemente,
a questão-lâmina,
entrando em seus ouvidos,
dilacerando tímpanos e tampas.

- A segunda parte,
quando seu raciocínio confuso
se perderia em conjecturas inúteis/inertes
sobre amor, sexo, traição e afins.

- A terceira parte
meu sorriso de professor-poeta
ao menino obtuso
que não decorou o ponto.

e, finalmente:

- A quarta parte
de minha problemática apoética
que, sem dúvida, deve lhe dar a resposta:

- As mulheres só são comestíveis
aos canibais e/ou semi-mortos
de fome (nada a ver com tesão).

Como observação vale acrescentar
que a poesia
é o bordel das verdades.

DONT' DO IT (NOT AGAIN)

Não ponha nunca mais
sua mão esquerda
sobre meu ombro idem
nesta atitude de queixo
perpendicular ao braço
que cruza nossos corpos
como uma lâmina longa
- tênue e rósea -


(afastando como quem aconchega).


Não abra ainda mais
seus dois grandes olhos
-verdes-
vertentes torrenciais
de águas mornais/salítricas
que afagam e repousam o corpo,
mas sempre me deprimem a alma
em cataclismas/catarses
de estrelas no céu,
vertentes velozes-ferozes olhares
de águas mornais/salivais.


Esses dois grandes olhos
que me sabem todo
e me são o único mistério e segredo
no espaço vazio que existe entre
a pré-descoberta e a revelação
de um novo espaço de mundo
e eu começo tudo de novo,


Mas não ponha nunca mais...

CONSTA(T)AÇÃO

Um velho sai à rua

e

grita,

mas a cidade

não tem velhos,

nem ouvidos.

(Mas ele sai à rua).

E a cidade,

que tem bocas,

engole até o velho

que não tem e,

então,

absorve assim seu grito.

E o velho da cidade

espera a morte calado

e enfim o silêncio

deste velho é o que grita (e incomoda),

mas a cidade amanhece,

já esquecida...

AUTO-ABSTRATO

Faz um tempo frio
aqui
tão longe.

(so far, so far...)

As pessoas concordam
que as palavras
sejam muitas e que,
por vezes, me confundo,
e,
as confundo,
e há muito de verdade
nisso tudo,
posto que as palavras
sejam tantas e tão sós
e quando juntas são tão poucas
que exprimam o sentido exato
da idéia
do conflito
da ambígua relação
amor-paixao-desejo.

Há um código no ar,
um sinal, púrpura,
há palavras e sentidos
(in)contidos
sub-entendidos,

desculpas máscaras mistério e subterfúgios,

há o desejo, sobretudo.

Ainda há um grito que faz muito
eu minto,

há um grito...

CANTO DE VIDA E MORTE

Não há que se encontrar
a vida que se queira
assim, ao inesperado,
como quem encontra
um amor antigo
e diz olá ! e dá um beijo.


Não há que se querer
assim, se encontre,
avidamente,
como o homem que deseja
a mulher e então
ele a possui (animal-verdadeiro)
e dá adeus ! nem dá um beijo.


Não há que se temer
da vida que se espera,
assim, a invocar os deuses
e pedir socorro.


Não há o que temer
da vida que me espera,

assim,

não há o que viver,

fim.

ANGÚSTIA

Esperei que você viesse
em meio aos silêncios da noite,

mas fiquei assim,

num sono intranqüilo
de quem tem culpa
porque espera.


Desejei que você viesse,
sobretudo à noite,
ao som dos séculos no ar,

invadindo este quarto

intranqüilo de quem espera
porque tem culpa.


Amanheci que você viesse
em meio a tudo,
em meio à bruma,

em meio ao desejo e ao silêncio,

sobretudo, esperei que você viesse,

mas fiquei assim,

perdido em meio a tudo,
em meio à cama, ao vazio
da dor de quem espera.

POÉTICA

Antecedo-me ao instante
e protejo seu nome
com metáforas e sufixos
que projeto.
Precipito-me às palavras
e defendo seu sonho
com versos, rimas e sorrisos,

mas,

no fundo,


é tanta a dor que eu sinto...


A vontade que eu tenho é
de extrair do poema
o seu corpo
e perpetuá-lo -em êxtase-
nú-exausto
e projetá-lo ao vento
e proteje-lo no abraço
e, então, afastá-lo
do medo de amar
que ele sente.


E que me atiça o desejo
e me deixa sozinho
e me deixa tão cedo
e me causa um poema.

NO(N)SENSE

Realidade, cores, precipício,

fantasia(s).

Nonsense,

isto é poesia,

uma clara reflexão sobre-tudo

que é óbvio,

tudo que é ópio,

tudo que é ódio.

A poesia é uma (só)

palavra que se habla.

- THAT'S NONE OF YOUR BUSINESS!

Mas o que se diz
a uma mulher
não se repete
em conversas no bar.

O que se diz,
a quem se diz.
porque se diz...

Há uma clara alusão
à poesia, que se repete, e,

por várias e tantas
outras vezes,em conversas de amar.

Nonsense, isto, aquilo, a poesia.

- THAT'S NONE OF YOUR SENSE!

DORES DE AMOR

Não vou cantar o adeus

de seus dedos no ar,

é obvio demais !

Não vou lamentar

minhas solidões sem fim,

seria até muito fácil !

Não vou elevar minha lágrima

à condição da providência divina

ou clamar pela compaixão do mundo.

simplesmente me nego

a poetar sobre a não poesia

das dores de amor !

RAZÃO DE POETA

Não me diga de ontem
qualquer amor proibido
pois não há nada mais
que se possa fazer
pelo amor de ontem.


Não me venha, de qualquer maneira,
rebuscar trajetórias
se meu caminho é tão longe
e há tanta pressa em ir-se.


Porém deixe estar aqui a palavra,
posto que é tinta em papel,
qualquer papel,
que exale ainda o suor
de outros tempos,
mas mesmo assim
que se também desgaste.


Não ouso a poética insandecida,
não mais !
Haja visto tantos e outros
sucumbirem em batalha, sós...


Hoje eu quero uma razão de poeta,
e este, em sua essência,
hoje,
dá adeus...e vai...