Friday, December 05, 2008

DOR

É grande a dor que sinto
e que se avoluma assustadora em tamanhos e sintomas que me dilaceraram internamente!
É grande a dor que sinto!
Como uma dor de perda
que não se vai embora,
uma dor de medo,
uma dor de tudo.
Não digo uma dor de morte pois se já morri ainda não me lembro,
mas digo uma dor de tudo posto que tudo é o que tenho então a me doer sem dó!
É grande a dor que sinto
e se a mensuro
então a comparo
o tempo todo que a sinto
com outros tamanhos, dimensões, estruturas, modelos e
a vejo grande, imensa,
abissal posto que é profunda,
colossal desde que me toma a frente e cresce e se volta contra mim e contra tudo.
É grande a dor que sinto!
Clinica e psicologicamente enorme em relação às terapêuticas inertes
que só a acompanham e lhe dão mais profunidade e largura e volume
e mais e mais e fica maior, desta forma, a grande dor que sinto!
Tão grande que me pergunto:
-É dor o que sinto agora?

Friday, November 14, 2008

CICLO IMPERATIVO!

É imperativo alterar o estado atual das coisas todas.
É necessário mudar!
Não há porque permanecer
aturdido e enfadado com tudo!
Não há porque ficar.
O que há é que se mudar!
Para sempre mudar de novo
alguma parte de todas as coisas.
Para sempre mudar!
Todas as coisas de alguma parte.
E então partir.
Porque é necessário mudar

Saturday, November 01, 2008

DEIXA DE FRESCURA DUDU !!!

Dia desses assistindo televisão sou surpreendido por um artista muito conhecido, Dudu Nobre, excelente sambista, compositor, intérprete e, até onde todos sabem excelente pessoa, em um comercial da cerveja Cintra relacionando atitudes consideradas como “frescura”.
A relação, bem grande por sinal, inclui desde cuidar da aparência até manter seu veículo em perfeito estado de conservação.
Confesso que a princípio fiquei aturdido. Primeiro com o fato de um cidadão tão bacana, do bem mesmo, tecer comentários tão preconceituosos e determinantes a respeito de ações tão corriqueiras e simples, exortando todos a abandonarem seu dia-a-dia e passar em um bar para tomar uma cerveja Cintra.
Não me cabe questionar a qualidade da cerveja recomendada, a tal “sem frescura” mesmo porque não bebo mais nenhuma cerveja, mas o problema não é a cerveja, muito menos a propaganda de cerveja em relação a qual não tenho nada contra.
O que me incomoda é alguém tão respeitável como o Dudu dizer que cuidar do próprio patrimônio é frescura, besteira que não leva a nada.
“Peraí” meu querido!!!!
Tenho um carrinho meia boca, ano de fabricação 2004, com 70.000 quilômetros muito bem rodados e se eu abandonar o bichinho à própria sorte como é que fica? Quem vai encerar meu carro para o sol não castigá-lo e para quando eu (se um dia conseguir) vendê-lo ficar todo desvalorizado? Quem vai passar silicone nas borrachas para que não ressequem e fiquem esbranquiçadas, para que o comprador do meu “velhinho” pague alguns reais a menos por causa disso?
E o quanto o bichinho me custou? Se eu não cuidar do meu pequeno patrimônio, quem vai cuidar?
Em relação à minha aparência então? Somos cobrados o tempo todo em relação a isso! Nosso querido compositor inclusive sempre se apresenta de forma impecável, cabelos e barbas muito bem feitos, roupas muito bem coordenadas...e agora diz que isso é frescura?
Como vou me apresentar a meus clientes de camisa abóbora esgarçada e bermudão jeans desfiado? Não devo mais engraxar meus sapatos, fazer a barba, cortar os cabelos? Agora é tudo frescura?
Não, não é!
Frescura é sugerir que qualquer coisa que não seja encher a cara em um boteco é uma boa!
Repito, meu querido Dudu Nobre, respeitabilíssimo sambista, sai dessa “mermão”!
O preconceito neste país é muito grande, muito feio e nunca, nunca mesmo, pode vir de alguém tão bacana e nobre como você!

Thursday, October 30, 2008

HIPOCRISIA DE NATAL!

Tem um novo e-mail circulando na rede falando sobre o Natal!
Muito bonitinho, propõe que cada um de nós deveria “adotar” uma das milhares de cartas que chegam aos Correios endereçadas ao Papai Noel e satisfazer, pelo menos, esta vontade de uma criança.
Também menciona que os pedidos são simples, de fácil atendimento, tudo muito “bacaninha”!
Na verdade entendo a proposta como uma forma barata de limparmos nossa consciência pesada quando, em todos os outros dias do ano, ignoramos e, por diversas vezes, agredimos estas mesmas crianças com o som da trava de nossos carros sendo fechadas à sua aproximação; aos vidros que sobem rapidamente, com o devido filme escuro, para não termos que encarar a realidade diária que vêm às nossas janelas tentar vender algum doce ou pedir ajuda.
E acredito que o “comprar alguma coisa” ou “dar um dinheirinho” não vai ajudar em nada estas crianças, mas olharmos nos olhos delas e agradecermos a oferta, desejarmos boa sorte, fazermos um comentário agradável, não tem custo algum e faz uma diferença enorme para elas.
Teve uma vez que agradeci à uma garota que vendia doces no sinal dizendo:
- Obrigado filha, boa sorte!
A menina voltou, com os olhos cheios de lágrimas e me perguntou por que eu a havia chamado de filha? Disse a ela que falava assim com crianças, era um hábito – e verdadeiramente é- e a garota me agradeceu dizendo que não se lembrava a última vez que tinha sido tratada desta forma!
Não estou dizendo que não há ameaças, riscos em andar com os vidros abertos. Também não peço uma visão de Polyana, óculos cor-de-rosa nem nada, mas, acredito mesmo no poder da transformação através do olhar, da palavra, da sinceridade dos atos.
Se você quiser “adotar” uma das cartinhas, parabéns! Mas não esqueça sua atitude em relação a estas mesmas crianças durante os outros 364 dias do ano.
Atitude tem que ter todo dia, tem que ser um propósito, não dá para aceitar que nosso comportamento seja um no dia de Natal e outro, completamente diferente o restante do ano.
Pensem nisso!

Monday, February 11, 2008

" ABSURDETO "

Meu absurdo é
este poema que não escrevi
a saudade de um tempo que não vivi
e tão pouco já (mais) te amava.
é a dificuldade que encontro
ao contar minha história,
a lama na sola do sapato descalço,
a incongruência dos traços do meu caminho.
é do tipo fatal, cruel, mas, às vezes
(por poucas vezes tantas outras)
vagabundo, quase felino.
meu absurdo é de mascarar verdades,
de andar nos entrepassos, de voar,
fugir ou
ficar aqui.
meu absurdo é a solidão dos sinos
que batem - blém - a hora,
da porta aberta,
do meu absurdo.

DOS JORNAIS DE HOJE

Meu amor:
- as andorinhas não mais cantam
nas janelas,
são outros sons,
outras palavras,
obuses meteóricos, meta-eufóricos,
núcleos, outros ares.
Há fome na Etiópia,
" apartheid " em Pretória,
nosso país não tem memória !
AS ANDORINHAS

SE
REVOLTAM
NOS

FIOS
DE
ALTA
TENSÃO
DAS

CERCAS
QUE
DELIMITAM
NOSSO

-VASTO-
UNIVERSO.

CAMINHOS (por entre estrelas)

uma luz que já não sou
porém brilho a própria luz
na janela...
fatigada a imensidão do cosmo
perdido,
em sua grandeza de menino.
e como em toda viagem fica um passo...
é quando te concebo imagem
e escrevo em areias cristalinas
todos os versos de vida que puder encontrar
- enquanto me passa a vida...
só sei que em toda viagem
fica um passo que não vou dar.
- enquanto me passa a vida...
Na janela onde fecho os olhos
e vou te sonhar.

DESEJO

se me deixares cantar
por certo sentirás nesta voz
outras vozes cantando
todo onírico entardecer
em palavras e sons da memória...
pois saiba que a vida se mostra
lobo em boca de lobo
e que a vida se não se gosta
não há porque desbravar
mistérios em teu corpo
ou imagem no muro,
e se não me deixares cantar
ficarás também em silêncio,
esperando, quem sabe,
que eu irrompesse em cena
lastimando desejos vorazes
e dores desertas, incompletas.

BARRACO

A
PORTA
NA

FAVELA

DO
MORRO
ABRE.
abre porta, abre torta...
EMANA

DAS
VÍSCERAS
ANÁRQUICAS
DO

SOL
QUE

NO
MORRO
NÃO
TEM,
mas tudo é tão próximo,
UM

CHEIRO
DE
LEITE
AZEDO
NO

PEITO
DA
MÃE
LARGADA
AO
MURO.

NA PORTA DO BARRACO DA FAVELA
TEM UM SAPATO RASGADO DE MENINO NOVO
E ELE SANGRA...

abre porta, ave ...

BIG CITY

A cidade lenta
pulsa
mente
ação
e todo sentido
se encontra

após o jantar dos mendigos
jantar com mendigos, vociferar aos urubus...
Proteger-se no sub-solo
das galerias do centro
e queimar todo o resto
das palavras em palavras vãs,
como o coração que voa,
ABAIXO AOS MENDIGOS !
E os papéis vão se juntando
à mesa do poeta e já não cabem
mais na sala, no quarto,
no ralo do banheiro...
e te consomem até o último poro
como se o poeta fosse uma puta,
velha e seca.

AO MEIO DIA

Nas esquinas faz-se tumulto,
nos bares já não é suficiente
a birita,
nos colégios os padres rezam
ao meio dia
e se martirizam nos corredores,
já não há palavras tantas,
mas se fala muito em todo lugar...
(nesse coração resta uma esperança)
Um anjo abaixou as calças
em frente ao Bordel da Aurora
ficou um resto de medo nos olhos do anjo
que não era loiro
e no meio das pernas do anjo
havia um sol amarelo de ofuscar
vitórias de poeta sem escrita,
e a puta mais velha relembrou
o jardim de todas as infâncias...
E o sol do anjo, no meio das pernas, brilhava
enquanto tiros de canhão explodiam
na primeira travessa à esquerda...
(nesse coração resta uma esperança vã)

"SHOPPING IMPRESSIONS"

Deliro a morena
passando
na frente da mesa
do "fast-food" chinês.
- They can also do it.
In English, of course!
Fantasio no xadrez
do frango no piso
o delírio da gata-morena
que passa e à cada passo
some em meio ao barulho
que tudo insiste em fazer.
Passeio com todos
prá nada que valha,
mas tudo vale
estar-se aqui esquecido
do mundo lá fora,
que não é só a morena,
só o delírio,
mas que eu também fantasio.

DA LUZ DA LEMBRANÇA

Que a língua revolva e lamba
o cabelo dela (vermelho da luz da boate)
e faça outros pêlos eretos
do corpo - na língua -
saltarem assustados e aflitos
com a seiva (lambida).
Que a língua saiba de cor
os contornos da orelha atrás
do cabelo dela (laranja da luz da manha)
e que conte segredos
das coisas - da língua -
tantas mentiras e solidões.
E que se fale do jeito que eu gosto
a língua do homem cansado
e refeito do medo de tudo
que sente e toca com a língua.
Que se cante com a língua dela,
que se molhe (ela) com a língua
toda (vermelha da luz da lembrança).

Friday, February 08, 2008

BlogBlogs.Com.Br

Wednesday, February 06, 2008

A TRAJETÓRIA DA RIMA

Universo abjeto e difuso

de ritmo.

O rumo de cada tragédia cotidiana

realizada,

o ruído,

a risada,

a palavra de apreço e a ruína. (a poesia ?)


Há um caminho ao verso

ao avesso do verso

Há um pouco de realismo em tudo que somos.


A realidade trágica da poesia é o oposto

a tudo que fomos.


Um pouco de saudade,
um resto de canção,

resquícios da imóvel sobriedade de sons
que se combinam e se enlaçam e se completam,

modificando-se.

Impulsos transitórios de medo,
espaços vazios entre espamos (desconexos).

FORMA/AÇÃO

As formas que eu sei
de dizer
desenhar
palavras
são muitas e única
como é única toda
forma
pessoal-canção
memória
tristeza
-solidão
e afins.

E seu uso
a forma única-
padrão doze por oito

é
que você-
anagrama
coração age

sensação ação sentida
palavra que não sei

porque
assim
você
não
entende o que digo.

Perdoe a mediocridade da poesia,
mas ela é o espelho do mundo.

SERIA UM VERSO DE ADEUS, MAS NÃO DEU!

Me abstraio no ato e te consumo como um raio
abstrato...

(quisera ver teus olhos no momento exato do adeus
no brilho de sonhos fugazes e desejos inocentes,
assim que ensaiaram a primeira lágrima.)

Me assumo impotente a seus olhos (nus)
e persigo o instante do ato (falho)
e é tudo assim tão solto e desprendido,
tão gesto casual,
é tudo tão palavra e pensamento que me admiro
incoerente à seus olhos e prossigo.

(quisera ver teus olhos neste instante de adeus
solitário)

E me abstraio ao ato e sobrevôo a cidade
escondida por entre os cabelos do teu sexo
e gozo o imperdível gozo de amor frustrado
e me condeno a morrer intranqüilo em seus braços
que me sufocam (e me afagam) aos pedaços.

(pudera viver um momento e eu diria que fosse
um momento de amor!)

A seus olhos me confesso inocente de tanto amor
e lascívia, mas meu coração (se) me entrega
e trai (me) a seus olhos, enquanto beijo a foto
sobre a mesa de centro da sala de estar
e não há mais o que se diga e (finalmente)
me condeno a morrer (de amor) com você...
Adeus...




(Nov/1988)

Monday, January 28, 2008

ANOITECER V

e assim acaba a tarde,
(acabou também o dia),
acaba tudo,
acaba o que se inicia,
acaba a vontade que eu tenho,
acaba minha alegria,
acaba o sonho de hoje
e começa o de um novo dia.

ANOITECER III

Se eu pudesse diria tudo quando escurece,
diria meu nome, meus sonhos, meus medos e fantasias,
se eu pudesse eu te diria
que quando amanhece não há mais poesia.

ANOITECER II

Para onde vai a luz da tarde quando anoitece?

ANOITECER


Anoitece a tarde serena.
No ar promessas de muito.
Anoitece a tarde amena, pequena,
simplesmente anoitece.

Friday, January 18, 2008

ESTE DIA

Pensamentos poucos/parcos que me passam neste dia
cabisbaixo (o pensamento e a vida)
óculos e cabelos pretos e o céu azul misturam-se
(numa improvável combinação de cores e coisas)
na cabeça e aos olhos das pessoas é mais um
que passa cabisbaixo.
Sentimentos todos/tolos que me passam neste corpo
deitado na grama do parque atrás do edifício
que se impõe ao dia e este a ele e o prédio
permanece fútil, porém imenso,
suspenso no ar da vida.
E mais algum tempo janelas e cidades se fundem
como os carros e as pedras a pele e a poeira
a pele e a madeira da árvore nua do parque
atrás do edifício que resiste (também à árvore).
E me percebo uma pedra imóvel/inútil que é nada
mas já foi poesia, me percebo metade corpo
metade sentido, um pouco cansado da pedra
um tanto arredio e saudoso e me calo,
como que se estivesse hablando de otras cositas.
E me empurro em direção ao abismo, também atrás
do edifício, (que ainda existe), e mergulho
e acho que gosto e sinto que vôo e vou acabar
em direção à nada ou ao fim.
E sinto que ninguém percebe, nem a milícia, nem
minha mãe, meu chefe não se dá conta, nem a mulher
que eu amo, ninguém.
E mesmo assim os pensamentos são rasos,
- Esqueci de apagar a luz ?
Mesmo assim sinto tudo e me sinto agora tolo,
porém todo, completo, eu e a morte
que vai ser com a cara na pedra que vai secar
meu sangue escorrido.
E me sinto fim e quando a pedra bate nas outras
pedras no fundo do abismo atrás do edifício
algum rumor de barulho no ar,
ALGUM RUMOR DE POESIA
e a vida assim se acaba
e termina.

(Set/90)

POEMA DO AMOR ETERNO

Pudesse o homem falar
de amor
e eu te diria que
por amor à tudo que eu faço
a música, mas, fantasia à parte,
por tudo que te faço música é que
eu te diria que
por amor à tudo é que faço
a guerra, e, por mil vezes mais
eu cantaria que por falar de amor
é que eu te diria
Já não me basta a música,
já não me serve a guerra,
por amor é tudo que eu faria,
prá te falar de amor
eu te condenaria
e mil vezes mais
eu-FANTASIA.

(Out/88)

DEPOIS DE TUDO

mil
pedaços
de
uma
constelação
haviam
na
incólume
luminosidade
do
abat-jour
violeta
e

não
éramos
os
mesmos
(indevassáveis seriam os
passos por entre espelhos
)

LÁ NO FUNDO

lúdico
e
lúcido
(resta um passo
para a loucura)
nos recônditos da noite vou,
onírico personagem,
à perseguir quimeras.

JÁ FOMOS

éramos dois
e como dois
não fossemos
mais que um
seríamos
nós brincando
na madrugada.
éramos ilha,
fogo, revolução,
destino e
ilusão,
éramos nada
e como se nada fosse...
completo seríamos.
éramos longe,
boca, floresta,
história e
corpo, éramos
velhos e como
velhos cheirávamos
a vinho no fim
das tardes...

SAUDADES II

foi
por um tênue
fio
de sangue
na calçada
que formavam os corpos de minhas lembranças;
foi
por um gesto
e um par de olhos
na janela iluminada
pela aurora que esqueceu-se de voltar;
foi
pelo manto
da madrugada
que coloriu-se com estrelas
que me vi desesperado
prá te encontrar.

LEMBRANÇA

Madrugada em febre
sou um pássaro em terra estranha
me dói a saudade estrangulada
que reverbero pelas sombras
da minha solidão.
Há um beijo vazio em meus lábios
que me lembra uma velha canção...
Só essa dor que o peito grita
é que me faz continuar.

POEMA DA CIDADE SUJA

Os trilhos reluzem as luzes das lanternas do trem
que trilha um caminho torto em busca de não sei
onde.

Um dia você chamou de amor o que eu disse que era
só carinho e, então, você e eu fugimos,
cada um seu lado fuga, e, partimos, cada um,
porém sempre lado a lado,
fugindo como quem não tem pressa.

Um trem vive em seus trilhos e na raiz de seus
movimentos estanca o sangue dos minutos de atraso
de todo dia.

Naquele dia você disse ainda que não podia
um amor assim tão claro, confesso e declarado
ser tão mascarado e covarde e depois esqueci tudo

E aí você me volta linda e sorridente, várias
vezes, e, por duas vezes dessas eu soco sua cara
linda que sorri ainda e eu senti tão fundo
o amargo de seus dentes em minha carne podre
que quis morrer de novo em seus braços
(agora para sempre)

Passei anos da vida toda construindo versos
quadrados, redondos, hexagonais e patéticos;
mascarando palavras puras, transformando o amor
em sexo (só); iludindo o mundo eu, iludido,
escrevia versos pêlos anos da vida toda.

Você sorriu e seu sorriso falava...me atirava
na cara os dias difíceis, a revolta por tudo
que tem acontecido, por eu ter me tornado tão
fraco e poético, tão mudo e amargo,
tão cedo e tão tarde,
por eu ter me tornado tão merda e tão nada.

Já mais nada tem a ver ou a ser visto, que seja,
pois já mais nada importa, respostas, poemas,
palavras e sentimentos ao léo.
Já não há mistérios quando o sol se abre em fogo
e seus olhos cheios de mistério e desejo
(quando estes se confundem) brilham muito e assim
é que você sorri e já não tem mais nada além disso
e eu prossigo meu caminho de trilhos de trem.

Meu caminho à toa, metade passos, metade esperança
de andar; meu caminho é a cidade sem fim de um
mundo vazio.

A cidade metáfora que construi mundana e possui
pesaroso.
A cidade poema que realizei sem sucesso.
A cidade problema
de janelas e luzes oblíquas,
(as luzes mistério)
e exílio de mim em mim mesmo.

Cidade de corações vadios cintilantes.

Cidade patê " foie-gras "
feijoada baseado

em tudo a cidade suja - a viagem cidade

A cidade é o mundo, contudo é pequena
pra todo espaço que tenho.

E aí você foi embora e com você todos partiram
e então eu fiquei sozinho,
carente de amigos,
carente de amor,
eu e a cidade suja.

E aí acabei meu poema.



(Jul/90)

FILHOS DA ...(dedicado aos inconformados)

ELES ESTAVAM EM TODOS OS LUGARES, NOS BARES,
NOS BANCOS DAS PRAÇAS, FAVELAS, MANSÕES, NOS
ESGOTOS, NOS TOCOS DAS FLORESTAS DE PAUS OCOS,
NO HILÁRIO ENTARDECER DE TODO DIA, AI ENTÃO NEM
SE FALA...
VIVIAM AOS POUCOS, AOS EMPURRÕES E SOLAVANCOS,
SOBREVIVIAM POUCOS E OUTROS ENSAIAVAM RENASCER,
IDIOTAS QUE ERAM !
NA XÍCARA QUE FUMEGAVA O CAFÉ ESQUENTADO DESDE
ONTEM HAVIA UM LAMPEJO DE REVOLUÇÃO ENTRE ELES E
A NECESSIDADE DE PODER _ MAIS AMAR E SEMPRE E
MUITO MAIS DO QUE VOCÊ POSSA IMAGINAR ESTAVA ALI
ENQUANTO DISCUTIAM FUTILIDADES SOBRE UMA POUCO
PROVÁVEL GUERRA ATÔMICA E MORDIAM OS LÁBIOS
NUM GOZO FRENÉTICO.
NA INTERMINÁVEL FILA (POIS ERA ÉPOCA DE SE
RACIONAR E POUCOS FAZIAM RACIOCINAR), AI ELES
ESTARIAM, CORRENDO POR ENTRE NOSSAS PERNAS,
ENTREVENDO NESGAS DE COXAS MORENAS, LAMBENDO
MIJO DOS CACHORROS E MORDENDO OS LÁBIOS
NUM GOZO FRENÉTICO.
em toda burocracia eles estariam exigindo carimbos
vistos visas notificações sub relações memorandos
pt obs urgentes e tais.
NA AUTOPSIA DOS RATOS ASSASSINADOS PELOS TRENS
NOSSOS DE TODOS OS DIAS DISCUTIRIAM MARX E TODA
FILOSOFIA VERMELHA COMENDO CHOCOLATE SUÍÇO COM
TODO O FRESCOR DOS ALPES.
ESTAVAM NAS IGREJAS E NOS TEMPLOS, ONDE TODO O
TEMPO SE FAZIA MISTER ARREPENDER-SE DO PECADO
QUE NÃO INVENTAMOS E SE SENTIRIAM PODRES COMO
NUNCA SE FORA SENTIDO...
MAS, DE REPENTE, DESCOBRIRIAM A PALAVRA SÃ,
PALAVRA-VENTO, LAMPIÃO, MASMORRA,
E TODOS OS SONS MORRERIAM PELOS QUATRO CANTOS
DAS QUATRO PAREDES DO QUARTO E,
NO UNIVERSO DE SUAS RELAÇÕES INCOMPLETAS
RECONHECERIAM A ESSENCIAL MEDIOCRIDADE
DE TODOS OS LUGARES-COMUNS.

POEMA DO ADEUS

Por favor apague a luz, pois não lhe dou o direito
de saber dessas minhas lágrimas, porém que fique
bem claro:
-Nunca serão estas as últimas.
Todo adeus é sempre encontro, é sempre sendo nunca
a despedida e cada uma delas uma porta aberta,
sempre a (re)descoberta do ser só, da profundidade
do interior da sala de jantar.
Todo não é sim, é par; falsa a teoria do
" eterno enquanto dure " , posto que só há a
eternidade no que não se desgasta:
Todo grande amor é falso desde que conceda,
desde o primeiro olhar,
desde que um deixa de sê-lo para incorporar-se
fundir-se a outro para que dois num impossível
instante, sejam um apenas.
Deixe que voe assim meu devaneio, em silêncio
(que é só o que resta de tudo),
mas não devore a poética caótica
enlameada na sola dos meus sapatos.
Hoje faz-se inútil o verso,
seja calmo ou movimento em chamas.
Se já faz tanto tempo ?
Dias, meses, anos, segundos,
- Será que realmente isso importa?
O que importa agora?
O que na verdade existe?
Não! Nunca as palavras se pretendam eternas!
Elas se movem
se mudam
Elas nunca se bastam,
Elas se batem,
se amam loucamente
se procuram e se beijam,
As palavras, de repente transformam teu gesto de
adeus em convite, mas assim o fazem sem truques
sem lances de cena, assim o fazem de cara limpa
cada palavra, cada letra é um grande e lindo
poema.
Deixo à você nenhum legado, porém deixo-lhe muito
toda a imensidão de um espaço vazio para que você
preencha.
A mim ? O que fica ?
Não se importe com isso...
A mim resta a solidão do ar.
Meu corpo já não mais cheira seu perfume.
Não vá dizer nunca daquela mesa de bar,
posto que antes ou depois foi sempre a mesma
mesa, inerte,
e nossas mãos por sobre a mesa
por ela não foram sentidas ou tocadas.
Da mesma maneira as ruas, as flores, o céu
e tantas estrelas.
Não diga nunca de nosso amor, talvez ninguém
acredite,
ou, que se diga antes do efêmero, do passageiro,
da ida e da volta, da cidade e do campo,
mas não se fale mais de amor
não se fale mais
não se fale
não se
não
não se fale mais de ontem,
pois olhe, já amanheceu o dia e já é outro o sol
que brilha, já é outro o rosto no espelho,
já é outra boca no rosto que se olha no espelho,
são outros olhos...
e, nesta imagem, não há qualquer cicatriz, Adeus.

28 YEARS LATER

Quero saber um pouco mais de mim,
sobretudo a pele, o tecido poroso, perene.
(o espaço vazio é eterno).

O epitélio castigado por aguardentes divinas,
poéticas, hepáticas.
Calos pulmonares, tumores inválidos
revalidados à cada tragada (longa, profunda).

Quero saber um pouco mais de mim,
entretanto resisto
-corpo e conhecimento são opostos descobertos (nús)
e, infeliz a mente trafega imersa
em versos medíocres
-periféricos - períneos
e internos que eu quero saber um pouco mais.

À cada inferno reativado - reativan/buscopan
e glicose em canos depauperados
por resquícios anfetamínicos.
Quero saber um pouco mais
sobre os temores do homem em minha idade,
sobre tantas erupções dérmicas, ganglios
e adiposidades infindas.
Quero também as falhas, os momentos
de desespero e reflexão.
Quero também revoluções não deflagradas,
gavetas entupidas de projetos inacabados.
Quero ainda a saudade e a foto perdida em meio
ao livro emprestado.

Quero saber um pouco mais de mim,
entretanto resisto - o espelho traria respostas
em sua imagem opaca.
E, infeliz a mente transita etérea
por versos medíocres.

E eu
QUERO SABER DEMAIS