Monday, January 28, 2008

ANOITECER V

e assim acaba a tarde,
(acabou também o dia),
acaba tudo,
acaba o que se inicia,
acaba a vontade que eu tenho,
acaba minha alegria,
acaba o sonho de hoje
e começa o de um novo dia.

ANOITECER III

Se eu pudesse diria tudo quando escurece,
diria meu nome, meus sonhos, meus medos e fantasias,
se eu pudesse eu te diria
que quando amanhece não há mais poesia.

ANOITECER II

Para onde vai a luz da tarde quando anoitece?

ANOITECER


Anoitece a tarde serena.
No ar promessas de muito.
Anoitece a tarde amena, pequena,
simplesmente anoitece.

Friday, January 18, 2008

ESTE DIA

Pensamentos poucos/parcos que me passam neste dia
cabisbaixo (o pensamento e a vida)
óculos e cabelos pretos e o céu azul misturam-se
(numa improvável combinação de cores e coisas)
na cabeça e aos olhos das pessoas é mais um
que passa cabisbaixo.
Sentimentos todos/tolos que me passam neste corpo
deitado na grama do parque atrás do edifício
que se impõe ao dia e este a ele e o prédio
permanece fútil, porém imenso,
suspenso no ar da vida.
E mais algum tempo janelas e cidades se fundem
como os carros e as pedras a pele e a poeira
a pele e a madeira da árvore nua do parque
atrás do edifício que resiste (também à árvore).
E me percebo uma pedra imóvel/inútil que é nada
mas já foi poesia, me percebo metade corpo
metade sentido, um pouco cansado da pedra
um tanto arredio e saudoso e me calo,
como que se estivesse hablando de otras cositas.
E me empurro em direção ao abismo, também atrás
do edifício, (que ainda existe), e mergulho
e acho que gosto e sinto que vôo e vou acabar
em direção à nada ou ao fim.
E sinto que ninguém percebe, nem a milícia, nem
minha mãe, meu chefe não se dá conta, nem a mulher
que eu amo, ninguém.
E mesmo assim os pensamentos são rasos,
- Esqueci de apagar a luz ?
Mesmo assim sinto tudo e me sinto agora tolo,
porém todo, completo, eu e a morte
que vai ser com a cara na pedra que vai secar
meu sangue escorrido.
E me sinto fim e quando a pedra bate nas outras
pedras no fundo do abismo atrás do edifício
algum rumor de barulho no ar,
ALGUM RUMOR DE POESIA
e a vida assim se acaba
e termina.

(Set/90)

POEMA DO AMOR ETERNO

Pudesse o homem falar
de amor
e eu te diria que
por amor à tudo que eu faço
a música, mas, fantasia à parte,
por tudo que te faço música é que
eu te diria que
por amor à tudo é que faço
a guerra, e, por mil vezes mais
eu cantaria que por falar de amor
é que eu te diria
Já não me basta a música,
já não me serve a guerra,
por amor é tudo que eu faria,
prá te falar de amor
eu te condenaria
e mil vezes mais
eu-FANTASIA.

(Out/88)

DEPOIS DE TUDO

mil
pedaços
de
uma
constelação
haviam
na
incólume
luminosidade
do
abat-jour
violeta
e

não
éramos
os
mesmos
(indevassáveis seriam os
passos por entre espelhos
)

LÁ NO FUNDO

lúdico
e
lúcido
(resta um passo
para a loucura)
nos recônditos da noite vou,
onírico personagem,
à perseguir quimeras.

JÁ FOMOS

éramos dois
e como dois
não fossemos
mais que um
seríamos
nós brincando
na madrugada.
éramos ilha,
fogo, revolução,
destino e
ilusão,
éramos nada
e como se nada fosse...
completo seríamos.
éramos longe,
boca, floresta,
história e
corpo, éramos
velhos e como
velhos cheirávamos
a vinho no fim
das tardes...

SAUDADES II

foi
por um tênue
fio
de sangue
na calçada
que formavam os corpos de minhas lembranças;
foi
por um gesto
e um par de olhos
na janela iluminada
pela aurora que esqueceu-se de voltar;
foi
pelo manto
da madrugada
que coloriu-se com estrelas
que me vi desesperado
prá te encontrar.

LEMBRANÇA

Madrugada em febre
sou um pássaro em terra estranha
me dói a saudade estrangulada
que reverbero pelas sombras
da minha solidão.
Há um beijo vazio em meus lábios
que me lembra uma velha canção...
Só essa dor que o peito grita
é que me faz continuar.

POEMA DA CIDADE SUJA

Os trilhos reluzem as luzes das lanternas do trem
que trilha um caminho torto em busca de não sei
onde.

Um dia você chamou de amor o que eu disse que era
só carinho e, então, você e eu fugimos,
cada um seu lado fuga, e, partimos, cada um,
porém sempre lado a lado,
fugindo como quem não tem pressa.

Um trem vive em seus trilhos e na raiz de seus
movimentos estanca o sangue dos minutos de atraso
de todo dia.

Naquele dia você disse ainda que não podia
um amor assim tão claro, confesso e declarado
ser tão mascarado e covarde e depois esqueci tudo

E aí você me volta linda e sorridente, várias
vezes, e, por duas vezes dessas eu soco sua cara
linda que sorri ainda e eu senti tão fundo
o amargo de seus dentes em minha carne podre
que quis morrer de novo em seus braços
(agora para sempre)

Passei anos da vida toda construindo versos
quadrados, redondos, hexagonais e patéticos;
mascarando palavras puras, transformando o amor
em sexo (só); iludindo o mundo eu, iludido,
escrevia versos pêlos anos da vida toda.

Você sorriu e seu sorriso falava...me atirava
na cara os dias difíceis, a revolta por tudo
que tem acontecido, por eu ter me tornado tão
fraco e poético, tão mudo e amargo,
tão cedo e tão tarde,
por eu ter me tornado tão merda e tão nada.

Já mais nada tem a ver ou a ser visto, que seja,
pois já mais nada importa, respostas, poemas,
palavras e sentimentos ao léo.
Já não há mistérios quando o sol se abre em fogo
e seus olhos cheios de mistério e desejo
(quando estes se confundem) brilham muito e assim
é que você sorri e já não tem mais nada além disso
e eu prossigo meu caminho de trilhos de trem.

Meu caminho à toa, metade passos, metade esperança
de andar; meu caminho é a cidade sem fim de um
mundo vazio.

A cidade metáfora que construi mundana e possui
pesaroso.
A cidade poema que realizei sem sucesso.
A cidade problema
de janelas e luzes oblíquas,
(as luzes mistério)
e exílio de mim em mim mesmo.

Cidade de corações vadios cintilantes.

Cidade patê " foie-gras "
feijoada baseado

em tudo a cidade suja - a viagem cidade

A cidade é o mundo, contudo é pequena
pra todo espaço que tenho.

E aí você foi embora e com você todos partiram
e então eu fiquei sozinho,
carente de amigos,
carente de amor,
eu e a cidade suja.

E aí acabei meu poema.



(Jul/90)

FILHOS DA ...(dedicado aos inconformados)

ELES ESTAVAM EM TODOS OS LUGARES, NOS BARES,
NOS BANCOS DAS PRAÇAS, FAVELAS, MANSÕES, NOS
ESGOTOS, NOS TOCOS DAS FLORESTAS DE PAUS OCOS,
NO HILÁRIO ENTARDECER DE TODO DIA, AI ENTÃO NEM
SE FALA...
VIVIAM AOS POUCOS, AOS EMPURRÕES E SOLAVANCOS,
SOBREVIVIAM POUCOS E OUTROS ENSAIAVAM RENASCER,
IDIOTAS QUE ERAM !
NA XÍCARA QUE FUMEGAVA O CAFÉ ESQUENTADO DESDE
ONTEM HAVIA UM LAMPEJO DE REVOLUÇÃO ENTRE ELES E
A NECESSIDADE DE PODER _ MAIS AMAR E SEMPRE E
MUITO MAIS DO QUE VOCÊ POSSA IMAGINAR ESTAVA ALI
ENQUANTO DISCUTIAM FUTILIDADES SOBRE UMA POUCO
PROVÁVEL GUERRA ATÔMICA E MORDIAM OS LÁBIOS
NUM GOZO FRENÉTICO.
NA INTERMINÁVEL FILA (POIS ERA ÉPOCA DE SE
RACIONAR E POUCOS FAZIAM RACIOCINAR), AI ELES
ESTARIAM, CORRENDO POR ENTRE NOSSAS PERNAS,
ENTREVENDO NESGAS DE COXAS MORENAS, LAMBENDO
MIJO DOS CACHORROS E MORDENDO OS LÁBIOS
NUM GOZO FRENÉTICO.
em toda burocracia eles estariam exigindo carimbos
vistos visas notificações sub relações memorandos
pt obs urgentes e tais.
NA AUTOPSIA DOS RATOS ASSASSINADOS PELOS TRENS
NOSSOS DE TODOS OS DIAS DISCUTIRIAM MARX E TODA
FILOSOFIA VERMELHA COMENDO CHOCOLATE SUÍÇO COM
TODO O FRESCOR DOS ALPES.
ESTAVAM NAS IGREJAS E NOS TEMPLOS, ONDE TODO O
TEMPO SE FAZIA MISTER ARREPENDER-SE DO PECADO
QUE NÃO INVENTAMOS E SE SENTIRIAM PODRES COMO
NUNCA SE FORA SENTIDO...
MAS, DE REPENTE, DESCOBRIRIAM A PALAVRA SÃ,
PALAVRA-VENTO, LAMPIÃO, MASMORRA,
E TODOS OS SONS MORRERIAM PELOS QUATRO CANTOS
DAS QUATRO PAREDES DO QUARTO E,
NO UNIVERSO DE SUAS RELAÇÕES INCOMPLETAS
RECONHECERIAM A ESSENCIAL MEDIOCRIDADE
DE TODOS OS LUGARES-COMUNS.

POEMA DO ADEUS

Por favor apague a luz, pois não lhe dou o direito
de saber dessas minhas lágrimas, porém que fique
bem claro:
-Nunca serão estas as últimas.
Todo adeus é sempre encontro, é sempre sendo nunca
a despedida e cada uma delas uma porta aberta,
sempre a (re)descoberta do ser só, da profundidade
do interior da sala de jantar.
Todo não é sim, é par; falsa a teoria do
" eterno enquanto dure " , posto que só há a
eternidade no que não se desgasta:
Todo grande amor é falso desde que conceda,
desde o primeiro olhar,
desde que um deixa de sê-lo para incorporar-se
fundir-se a outro para que dois num impossível
instante, sejam um apenas.
Deixe que voe assim meu devaneio, em silêncio
(que é só o que resta de tudo),
mas não devore a poética caótica
enlameada na sola dos meus sapatos.
Hoje faz-se inútil o verso,
seja calmo ou movimento em chamas.
Se já faz tanto tempo ?
Dias, meses, anos, segundos,
- Será que realmente isso importa?
O que importa agora?
O que na verdade existe?
Não! Nunca as palavras se pretendam eternas!
Elas se movem
se mudam
Elas nunca se bastam,
Elas se batem,
se amam loucamente
se procuram e se beijam,
As palavras, de repente transformam teu gesto de
adeus em convite, mas assim o fazem sem truques
sem lances de cena, assim o fazem de cara limpa
cada palavra, cada letra é um grande e lindo
poema.
Deixo à você nenhum legado, porém deixo-lhe muito
toda a imensidão de um espaço vazio para que você
preencha.
A mim ? O que fica ?
Não se importe com isso...
A mim resta a solidão do ar.
Meu corpo já não mais cheira seu perfume.
Não vá dizer nunca daquela mesa de bar,
posto que antes ou depois foi sempre a mesma
mesa, inerte,
e nossas mãos por sobre a mesa
por ela não foram sentidas ou tocadas.
Da mesma maneira as ruas, as flores, o céu
e tantas estrelas.
Não diga nunca de nosso amor, talvez ninguém
acredite,
ou, que se diga antes do efêmero, do passageiro,
da ida e da volta, da cidade e do campo,
mas não se fale mais de amor
não se fale mais
não se fale
não se
não
não se fale mais de ontem,
pois olhe, já amanheceu o dia e já é outro o sol
que brilha, já é outro o rosto no espelho,
já é outra boca no rosto que se olha no espelho,
são outros olhos...
e, nesta imagem, não há qualquer cicatriz, Adeus.

28 YEARS LATER

Quero saber um pouco mais de mim,
sobretudo a pele, o tecido poroso, perene.
(o espaço vazio é eterno).

O epitélio castigado por aguardentes divinas,
poéticas, hepáticas.
Calos pulmonares, tumores inválidos
revalidados à cada tragada (longa, profunda).

Quero saber um pouco mais de mim,
entretanto resisto
-corpo e conhecimento são opostos descobertos (nús)
e, infeliz a mente trafega imersa
em versos medíocres
-periféricos - períneos
e internos que eu quero saber um pouco mais.

À cada inferno reativado - reativan/buscopan
e glicose em canos depauperados
por resquícios anfetamínicos.
Quero saber um pouco mais
sobre os temores do homem em minha idade,
sobre tantas erupções dérmicas, ganglios
e adiposidades infindas.
Quero também as falhas, os momentos
de desespero e reflexão.
Quero também revoluções não deflagradas,
gavetas entupidas de projetos inacabados.
Quero ainda a saudade e a foto perdida em meio
ao livro emprestado.

Quero saber um pouco mais de mim,
entretanto resisto - o espelho traria respostas
em sua imagem opaca.
E, infeliz a mente transita etérea
por versos medíocres.

E eu
QUERO SABER DEMAIS