Sunday, December 23, 2007

“IN-CONCLUSIVO”

Conjectura-se a obviedade aparvalhada da condição humana
-inerte/esquizofrênica arte-
e relaciona-se o ostracismo social às técnicas obstétricas
e à psicologia pseudo educacional
transformando o imutável em moto-contínuo
o que é (?) a mesma coisa
ao mesmo tempo.
Porém, conjecturas à parte, o homem é o homem,
elemento translucido de liquefeita natureza,
seja cravado na pedra da cruz e mudo, absorto
no vazio da existência,
seja cantando versos concretos, absurdos,
plenos de pulmão e e vibracões sonoras.
Enquanto social e mente imperfeito
atua no sentido de aprimorar sua condição
e casa com a mulher que escolheu por acaso junto à um balcão de bar,
-(alguns alegam motivos vários, técnicas complexas, análises profundas.) - single.
E casa e quer a casa dos sonhos que são só dela e do agente financeiro
-(o homem questiona-se: ela e o agente ?)
A mobília o carro a casa quer tudo dentro no ato e ela só fala disso, no ato.
óbvio espanto - perplexo solar arfando
e nada muda ou tudo é igual...
A rua é a mesma, são novos carros, alguns amigos poucos.
Mas o homem é o homem,
eterna e vaga conjectura e são as luzes da sala que o despertam
É manhã!
E o homem
o homem acorda e abraça a manhã de ressaca.
E o filho na escola - dinheiro
o carro na oficina - dinheiro
a mulher na feira - dinheiro
É manhã e domingo!
O carnaval já passou
já passou a certeza
já passou tudo mais.
É manhã e domingo!
Toma café banho e cigarro - tudo calmo -
e sai à rua:
- O vizinho volta correndo, pássaros cantam,
há uma leve tensão no ar vazado pela luz
do que é sol
do que é medo
do que é vontade de ir.
E (se) o carnaval já passou
já passou
a vontade
e o homem
o homem volta
e dentro da casa - ninho -
o indivíduo é a célula do social dividido
e ressurge um pouco
a pouco
o tesão
e o homem
o homem grita
e a lágrima salta - incontrolável -
e se atira contra a janela fechada
dos olhos do homem
e quebram-se os vidros-retina
e pulsa a veia - vertente caótica
e jorra esperma da boca do homem e fertiliza o carpete
tantos e não sei quantos milimetros
e brota no meio da sala
- dos sonhos que são só dela -
uma árvore homem outro
que é o mesmo
seja cravado na pedra da cruz e mudo, absorto
no vazio da sala de não se estar,
seja gozando a felicidade plena,
absurda situação de homem,
cheia de solidão e mutações genealógicas imperfeitas.
Mas o homem
é o homem
e traz num canto obscuro da boca semi aberta
um gosto amargo de medo e revolta por tudo que é.
O homem
sacode a poeira
e escarra saliva fétida
- acúmulo de infelicitadas gerações -
E cospe no chão tanto medo e poesia
que dá vontade de começar tudo de novo
- pré balcão de bar
pós feto expelido
no mundo dos outros homens que são
tudo que não quis ser. -
E agora poder qualquer coisa que queira
e agora poder não poder
e agora acabar sua história,
bailar um tango de merda,
roer a unha da mão
olhar sua imagem no espelho
e concluir...

“WICH IS YOUR SIDE?”

Todos temos um lado podre
escondido no obscuro
dos olhos,
contaminado - encubado
embaixo da língua,
determinado intra-epitélio
roxo esmaecido.
Na vibração muscular
do gozo temos um lado torpe
que apodrece a carne, lenta e
meticulosamente planejado.
Todos temos um lado rude,
meio aranha,
meio veneno e saliva
um pouco escarro
um quase escárnio.
Mas, por outro lado
tecemos teias repletas
de indignação hipócrita
que nos protegem,
por outro lado...

"UM VERSO PERDIDO“

A lua
lâmina
lenta
inventa
a nau e
muda a
história

do verso de amor que eu tentava escrever.

E
a
lâmina
nua determina
a luz que vai absorta
em seu caminho de seguir em frente.

E
o
poeta invoca a lua em seu delírio de inseto
que encontra a lampada acesa e perde o rumo
em meio à tanta saudade e falta de propósito
que ocorre quando um verso se perde
em meio à tudo
que
também
é poesia.

“SO MANY WORDS FOR NO MEANING ! “

Todo o sentido que as palavras tenham
tanto quanto as palavras
cujo valor absoluto se exprima
elevado à décima vez que é dita
quanto as que poucas e pequenas
se traduzam em sementes -férteis-
e explodam frondosas árvores
cuja arquitetura plena invada
nossos olhos de sombra e paz.
Todo o sentido que as palavras tragam
(in)contidas verdades
que afagam seu corpo nú
e, multiplicadas em sub sentidos
sejam vertentes de desejo
e prazer realizado em gritos na noite
e gotas de suor nas janelas da noite.
(tantas palavras caladas
que entenderemos sempre)
Tanto sentido que as palavras buscam
e se entregam à toda láscivia dos sons
que emanam e vibram e se beijam.
Tanto sentido que se imprime
ao rito da palavra escrita
que se imortaliza rasgando
o papel e à lágrima que
insiste quando sorrimos.
Se há mesmo tanto sentido
então que a palavra
seja
toda
sentida.
E que sejam bonitas as palavras
que eu traga nos dedos
desertos de medo
e, adequadamente construídas,
uma a uma, se encaixem
completas e realizadas
e se encarem, uma a uma,
e se façam versos de amor todo dia.
Que sejam verdadeiras
as palavras que eu diga,
que vibrem uníssonas
e claras
pela língua vermelha
pelos lábios molhados
e os alvos dentes da noite

Que se perpetuem
em meio ao vazio
dos silêncios da noite.
mas que saibam
a hora de ir
e que voltem
à noite.

“AO VELHO SUICIDA”

“OVERTURE”

Lento pulsar
de vozes no ar,
tensionadas ao limite
dos sons
que se espalham,
arfando tardias palavras
úmidas e vorazes,
fatigadas
quase mudas.
perceptivelmente articuladas ao extremo,
exageradas, ausentes, palavras de
desespero e completa solidão,
balbuciadas,
insaciadas palavras
atiradas pela janela dos fundos
do andar mais alto do prédio
velho
onde morava só
o
velho
e suas frases de efeito
que se foram com ele
atiradas ao vento.

“PERSONAL IMPRESSIONS ”

Busco imaginar
seu conflito,
o medo intrínseco,
a lama na sola dos sapatos,
as marcas de sangue no chão.
Busco perceber seu corpo
em voô
seu ritmo cardiaco
sua língua de fora.
Tento resgatar seus sentidos
no último sopro de vida
de encontro à pedra
em meio ao nada.

“CONCLUSION”

Talvez haja uma razão que eu não saiba
talvez até um pouco de poesia
em seu gesto final,
concluído.
Abandonado entre as quatro paredes
do quarto esmaecido
o velho projeta ao vento
sua angústia
e pede perdão ao mundo
por ter prolongado
tanto tempo
sua falta de alegria,
sua saudade das coisas,
seus tantos mistérios
e solidões sem fim.
Pede perdão e se atira
ao mundo, se entrega
derrotado, desvalido.
No espaço entre o salto
e a queda
é possível divisar
em seus lábios
um tênue sorriso
(a)final.

FROZEN MANGO


que o natal seja feliz e que voce seja também!!!
FELIZ NATAL!!!!

Thursday, December 20, 2007

TASTES LIKE SOMETHING

O gosto que sinto quando lembro do gozo
é perto é próximo
é espuma que borbulha
como um vinho "demi-sec"
o gozo que invade
o gosto que eu sinto
quando lembro
do gosto que tem o gozo.
E se lembro assim pesaroso
é que me falta o gozo,
e eu sinto o gosto um tanto amargo
na boca
quando lembro do gozo
e penso que gosto é esse que sinto?
Me parece um pouco com vida, outro tanto com sonho,
me parece demais com vontade e esperança que há muito carrego,
há muito ...
E sinto também um gosto de desespero e angústia,
sinto na língua um medo de ir, soltar-se em meio ao vazio,
quase voar de encontro à tudo
que me lembra o gosto do gozo.
O gosto que sinto do gozo
é um pouco de tudo já é quase o gozo em sí,
falta pouco e já é gozo
este gosto que tenho na boca
que traduzo em palavras nas quais não se cabe,
não se encaixa, não se sente o gozo
do gosto que eu sinto,
pois cada gosto tem seu gozo e,
como consequência
inexorável e quase cruel eu diria,
cada gozo tem seu gosto
que só ele
e que eu só sinto.

SINA

Querer cumprir
a
sina
a que se determina o indivíduo
“anima vitae”
Querer cumprir
a
sina,
desobedecer mensagens:
- DENIED ACCESS!
Querer assim
a
sina,
desvendar a senha
e o fim
que se queira
cumprir
a sina,
deserta
de mim
a sina
assim
sem fim
que quando eu molho meus lábios
sinto na língua seu gosto molhado
pra querer assim que se cumpra
a sina
em mim
que seja assim
que quando eu molho meus lábios
sinto na língua seu gosto sem fim
em mim.
Querer assim
a sina,
é sina seu gosto em mim
é sina seu rosto assim
é sina seu medo sua lágrima,
seu desespero e insensatez
é sina voce assim
em mim.
é sina voce assim.

“MORNING IMPRESSIONS”

A cor - vermelha - da manhã
que chega
invade o quarto e reflete
matizes tantas
de movimentos plenos

- desvairada dança
de sons diáfanos -

que seus lábios
se abrem e se fecham
imprecisos,
calando palavras inúteis,
dispersas em meio
à tanta manhã que chega.

Mas a pélvis pulsa
- o pleno movimento instantâneo -
encanta-se e ensaia delírios
momentâneos de dor
e gozo
- intermináveis, imutáveis -
é cedo ainda, há muita
luz ainda,

um cheiro acre, orgásmico,
flutua no ar da manhã
que se incendeia
sob nossos olhos atônitos
e
felizes
e, há muito que ser feito,
mas é cedo ainda
e a manhã devora o quarto
enquanto seu corpo suado
descansa em meio
à tanta manhã.

“DEAR LADY“

Imaginando gestos

planejados
definitivos

os dedos passeiam lânguidos

cansados
repetitivos

por sua coxas fortes
que pulsam odores
e tragédias infindas
abraçando o espaço todo, tanto.

-as horas são pares
insatisfeitos desta
valsa intranquila-

O corpo vibra no ar

balança
alcança

o mais feroz dos movimentos
da dança de amor solitário

apenas gemidos roucos
lançados ao vento
que , inerte assistente
reverbera o som inusitado.

Os pés se confundem
tanto

acima e abaixo
se enganam

que eu quase acredito

VAZIO

outros lugares
outros amores
outras paragens,
paisagens de outras canções
mal cantadas,
versadas em tempo de poucas palavras,
grafadas incompreensíveis,
gritadas ao vento.

outros lugares,
passos distantes,
ermos caminhos,
sentidos,
vestígios de pó e lágrimas
mal derramadas,
contidas,
embaladas,
involucradas e seguras,
mascaradas em sorriso amarelo
de pálida lembrança
(amarela).

outros lugares,
visão distorcida,
outros espaços
dentro do espaço
(o mesmo
vaziode qualquer espaço).

ASK ME...ANSWER ME

doubts...no meanings for no words...
o que fica da palavra que não digo
é pouco
e nada significa,
mas nunca minta sobre a estrutura social da paixão
posto que a vida ensina e sinaliza o tempo todo
com garbo e sabedoria
e satiriza a mentira com gestos e atitudes reticentes,
renitentes
e nos penitencia com a solidão da alma.
nunca minta sobre a verdade
das coisas que fomos,
pois construir o futuro deve basear-se em verdade absoluta
para que se tenha o futuro absoluto,
verdadeiro, sólido, perene...eterno.

BEIJO

um beijo
atípico,
-asséptico-
flavorizado artificialmente
colorizado, acidulado,
meticulosamente fabricado
-aos pedaços-
intencionalmente aquecido,
perdido,
falsamente embriagado,
um beijo esquecido,
conquistado,
planejado
aos poucos,
-dia após dia-
enganado,
desmistificado,
revelado,
um beijo
arredio,
vadio,
pequeno,
imbecil,
um beijo que nunca foi dado.
ou apenas um beijo acabado!

ELA SORRIA

de um jeito
de portas abertas,
escancaradas
e era um sorriso melado,
dengoso, parado
era um sorriso perdido
caído no chão,
alucinado
e ela sorria de tudo
do carro que passava
da chuva que caia
do sonho que acabava
do medo que partia
e ela sorria de um jeito
concluido, difuso,
imaginado

POR QUE


Porque eu acho
voce
mais bonita
que ontem achava
não é porque
voce seja outra que ontem não era,
mas é que hoje é outro dia,
hoje é outra canção,
é nova melodia,
é sonho que se expande e que se exprime em versos
e palavras que eu falo pra voce
dizendo que hoje eu acho voce mais bonita
que sempre achei e que amanhã é outro dia
uma menina, um desejo renascente,
uma vontade de mais ainda
que eu espero todo dia
o outro dia
porque se hoje
eu acho voce mais bonita...
é que amanhã eu vou achar mais ainda...

TANTO TUDO

todos os projetos
todos os processos
todos os sinais, sentidos e tudo mais
tudo está cansado,
tudo está perdido
tudo acabado
e tudo o mais.

todos os lugares,
todos os vestígios
todos os incensos, vertigens e desvios
tudo está malhado,
tudo está usado
tudo acabado
e tudo o mais.

todas as ciências,
todos os pedaços
todos os abismos, crateras e vulcões
tudo está esquecido,
tudo está perdido
e tudo o mais.

e o tanto que tudo se perde
é muito,
mas já está perdido mesmo
então não é mais!

MARULHO

o mar
à noite
-marulho-
marejo
o murmúrio
do mar
-marulho-
e se há o que navegar
me atiro
ao mar
e juro
ao mar e à noite
que,
desta vez,
mergulho.

LIFE

ceifar o caule
da vida
-lancinante corte profundo-
cravar os dentes
na puta da vida,
agarrar-se à vida
como quem dela duvida
e morder até o sangue
(que é vida)
escorrer pelo vão dos dentes
da boca.
ceifar o caule
da vida
-gritar lacônico-histérico-

matar um pouco da vida
todo dia
porque sozinha
ela se acaba
um pouco
todo dia

Friday, December 14, 2007

TEMPO

Dedicado ao Aniversário do meu Pai, Ismael!
(Pai, Feliz Aniversário!!!!!)

Tempo,
líquido do que é feito
vira um soneto, sonífero, epíteto
da coisa, da causa, da casa,
do jeito do que se é feito.

e se há tempo, porque de tempo também se faz,
cantamos canções de guerra...

se há tempo regozijamo-nos
porque há paz nas canções que cantamos.

Tempo,
mítico do que se é feito
vira um resquício, rescaldo, refluxo
do dia da noite da vida
do jeito do que se é feito.

e se há a vida, porque é de vida o que se faz,
cantamos nossas lembranças...

se há tempo, nos encontramos,
pois há encontro em nossa distância.

Tempo,
de celebrar porque é feito,
alegria, nostalgia, letargia
do tempo que é tempo que é vida
que é medo, saudade e afazia.

Tempo,
de celebrar porque passou,
urgiu, recalcitrou,
do tempo que é tempo que é vida
que é tempo, saudade e mais um dia.

Seu dia que espero
fantasia, poesia,
saúde e alegria,
pois é disso que se fazia
tão pouco e tanta magia,
e a gente que tudo quer
esquece que se querer pouco
pode ser querer tudo

pois tudo é muito pouco
e pouco é o que nos sacia!

Saturday, November 17, 2007

LEGADO

deixo um legado
de nada,
deixo palavras,
papéis
e saudades.
(saudades?)
deixo poesia,
pretensão
e hipocrisia,
deixo
a casa vazia,
solidão
e fantasia,
deixo
o pé descalço,
ilusão
e putaria.
deixo
um pouco de medo,
revolta
e tudo mais
que eu não queria...

PLURAL

Plural
de um:
-uns,
(muito
mesmo
ou
alguns).
Plural
nenhum
(muitos
que
até
mesmo
outros)
plurais
de alguns
(todos

que
plurais
são tantos

SAPIÊNCIA

saber saciar a sede
que mata
saciar a fome
que mata
saciar a vida
que mata

saber saciar o desejo
que mata
a fome
a sede
a vida.

SHIT-TALKING

Eu digo à Ela:

-esqueça o que eu disse!

e Ela diz:

-não esqueça o que disse!

e ficamos pensando

por que dizemos tanto

se precisamos,

o tempo todo,

esquecer

das coisas que dissemos?

SIGNS

Símbolos,
o que me importam
se são tantos
e se preocupam você
ao extremo do que são?
da cama que eu uso,
sua posição em relação ao sol
à porta de entrada do quarto
com quem durmo?
por que?
da marca dos cigarros
que ávidamente consumo,
a cor do filtro
diametro, comprimento
o teor de elementos cancerígenos
por que?
Quero saber dos sonhos
que tenho à noite
enquanto e quando durmo,
quero a vertigem do pesadelo inacabado.
a sensação de prazer quando os olhos se abrem
um pouco do medo que fica quando os olhos se abrem.
Quero as nuances da fumaça no ar
(cinza-avermelhada)
totalmente etérea, vazia no ar,
perfeita, imune à tudo que paira no ar,
que brinca entre meus dedos
travessa e tranquila
e se perde
em meio à tudo
que não é símbolo
de
nada
e não representa
nada,
mas vive e pulsa pelo ar
para sempre
posto que o eterno
não se desgasta.

“SOME NEWS, NO NEWS”

contrastes - contínuos
constantes
estilhaços que voam
- pedaços.
anúncios classificados,
escândalos,
escândalo cifrado.
O poema naufragado ressurge
- enfim -
á beira das águas que banham
não sei quantos
quartos da terra.
Notícias de longe,
imensas, imersas,
de outros cantos,
outras terras...
Fragmentos de versos
nos bolsos puídos,
papéis amarrotados,
maculados de sonhos
e esperança tanta
que eu tinha.
- pedaços.
Abrir os jornais,
é dia...
Devo ler as notícias
- todas -
que não me importam,
bem como a cidade industrial
que já basta o que fabrica
- multiplica e ecoa
detritos incoerentes
de processos diversos,
intermitentes,
que se povoam e
se devoram.
Abrir os jornais,
é dia...
Devo ler as notícias
- todas -
dos jornais do dia
que não é hoje
é um outro dia,
o que também
pouco importa,
mas que me deixem sonhar
mais um pouco
- posto que é dia
ainda -
mesmo que seja
aprisionado nas quatro
paredes do quarto
que dorme,
mesmo que seja
acorrentado às convenções diversas
de espaço delimitado,
mesmo que seja assim,
que me deixem sonhar
mais um pouco, apenas...
mais um pouco...

“DO RITO GESTUAL”

Renunciar
- total e completamente-
aos gestos de costume,
rotineiros,
à tantas ações de movimento
planejadas,
meticulosamente calculadas,
extraídas de conveniencias
socialmente irrepreensíveis,
estudadas com afinco,
manipuladas, maquiadas.
Renunciar
- plena e absolutamente-
à bizarros trejeitos antiquados,
à mesmice obtusa, diversa,
aparvalhadamente observada,
copiada ao longo dos anos passados,
mal vividos,
inaproveitados.
Ousar
- ao menos uma vez que seja -
um gesto
novo,
irremediavelmente novo,
mas
evitar também
que seja assim de pronto,
imediato.
deve se tocar a alma
no mais fundo que se possa
com as duas mãos
em tempo igual
no mais fundo que se possa
e,
da profundidade maior
obter um breve rascunho,
uma minuta mal feita,
um plano sem estratégia,
mas que tenha a imagem da alma
e um tanto de cor de alma também
- imprescindível combinar
matizes variadas, perplexas,
atônitas, rebeldes e ordinárias -
e jogar tudo isso na
cama mal arrumada
do domingo de sol,
em meio ao dia de sol,
- dissimuladamente inútil
desprezar a invenção das horas,
dos dias de domingo de sol -
e alí deixar-se, imóvel, observando
coisas,
espantando-se,
regozijando-se com a perspectiva
de progresso que só o início
das coisas pode nos fazer sentir,
refletir um pouco
sobre tantas possibilidades,
sobre muitas posssibilidades,
procurando deter-se
absolutamente no processo
de descompromisso assumido
em nosso pacto com a ousadia
de criar
um gesto
novo
- ao mensos uma vez que seja -
Então começar à juntar
as coisas,
desorganizadamente unir
diferentes formas
e cores e sentidos outros.
Desvairadamente apoplético
deliciar-se no “croquis”
obtido,
já quase um gesto,
meio que um lampejo
de ação inciada, esboçada,
dinamizada sob a ótica
da alma,
do mais fundo que se possa.
- não permitir confusões
(normais) entre a dinâmica
e o idealismo,
mesmo que o verso exija -
já quse parir
o gesto
novo...
Antes porém é necessário
contrair-se o ventre
e respirar um pouco,
atingir a temperatura e
posição ideais à seu intento,
que nunca vão,
e respirar um pouco
mais de novo
num crescendo, lento e descompassado,
deixar suar a testa
e o dorso já desnudo,
molhado.
Deixar fluir odores,
grunhidos, metáforas
sintonizar parábolas
e as fadas dos contos
distantes -
captar os sinais
do mais fundo que se possa -
metamorfosear
transcodificar
inversamente traduzir
repetir à exaustão
o respirar mais fundo
do mais fundo que se possa - de novo -
E fazer nascer
o inédito gesto concebido,
aninhá-lo de encontro
ao peito,
acalmar o coração
levado a seu limite
- apoteótico coração poeta -
E fazer viver o gesto, mostrá-lo ao mundo,
distribuí-
lo
em
capítulos,
assim que houver patrocínio.
E
gesticular,
- imensa e absurdamente -
o gesto
novo,
autorizando seu consumo
exagerado,
seu uso
indiscriminado,
aceitando
seu vício
incontrolável
e
abrir mão
da patente
discutindo contratos futuros,
indenizações,
responsabilidades,
garantias...
e
renunciar
- de novo ou
sempre que possível -
aos gestos de costume,
rotineiros...

Sunday, November 04, 2007

VIDA

fica um pouco de vida
nas linhas tantas
da folha seca,
e de amor,
nos instantes
de toda noite.

AOS NOSSOS FILHOS - (18/10/84)

Isto é que você não pediu nada
nunca minta a nuca gelada,
a madrugada te oprime/imprime e
você pesadelo minto desolado.
Todos juntos nós, cada um por si e só,
nunca minta voz !
minta imita a voz ativa,
ávida a via da vida aflita
que só carrega em tua Mão a estrela matutina,
ladina cadela puta sem dentes na boca
sifilítica.
A estrela vagabunda se sou sem sol maior
num bequadro sincopado a melodia barata.
Nessa pedra de caminho há um outro caminho
por entre nós, e, por entre as pedras no caminho
há outras pedras que não a tua velhinho
sozinho/sozinho de granito sentado na banca
de jornal feito estátua que é só o que você
sabe ser (sim/não).
Na tarde chove molha a boca do sal da tarde
latrinas de papel embosteadas
nuvens e poças de sangue
em nosso " artificial heart "
as janelas iluminadas inanimadas iluminadas
do edifício são pedaços, estilhaços sociais
na noite sem piedade,
os que caminham escarros dos sonhos diários,
são metáforas de poetas medíocres ao mundo.
No meio do fio começa um novo fio de uma outra
trama neste drama absurdo que vivemos em nosso
teatrinho de revistas.
Já somos muito antigos, já bebemos muito vinho,
já amamos demais e fomos "beats", narcisos,
"punks",essencialmente existencialistas, édipos,
"by the peace everything",marxistas capitais,
lost in Abbey Road na BR.116
e até hoje nada fomos além de sermos o nada,
sempre livres nas amarras do sonho, fomos elos,
metonímias, anagramas...

INCOERÊNCIA

O AMOR
É
UMA
INCONSEQÜÊNCIA
POÉTICA
CHEIA
DE SEGUNDAS INTENÇÕES.

POEMA DO EU

meu poema

são dois

um sou eu
o outro adeus.

PROCURA

Todas as coisas
que são feitas
por amor
devem ser perdoadas,
mas que amor é esse
que a todo momento
tem que se perdoar ?

Procura-se um verso
de amor sem perdão
que complete
a poética das coisas.

CICLO

Cativa
ativa
cata a vida
pelo pescoço

e mata (a) ela

INSTANTE (II)

Gritar você

a noite escura

me ver

sozinho,


gritar calado.

INSTANTE (I)

O poeta procura
uma praça com ar antigo,
em um tempo antigo,
de uma dor antiga,
onde possa realizar-se um novo poema.

GRAMATURGIA

ENTRE PARÊNTESES

NOSSOS CORPOS SE ENLAÇAM

HÍFEN

O AMOR E O ÓDIO

SE ENGANAM.

SE HÁ ALGUÉM...

sou um lobo sozinho,
perdido,
à noite.
e se há quem diga
que sou um lobo
sozinho
já não há mais
solidão
à noite.

MEDIDA EXATA

Hoje constitue-se uma data
extremamente importante
em meu calendário
de datas importantes.

Faz exatamente noventa e sete dias
que cada dia é um mesmo dia
após o outro,
como se não fora esta a lei
que rege as datas.

EYES

um velho decrépito
senta no banco da praça
mastigando pipocas
em suas gengivas afiadas...

de repente
vê as pombas ao seu redor
e tem desvarios de liberdade.

WHAT ABOUT YOU ?

você vê a coisa toda
como é
que você vê a coisa
toda.
você é a coisa toda
ou prefere apenas
uma ou outra coisa?

cabe uma pausa
para que você conclua:
que é a causa (toda).

CONSTATAÇÃO

CUBRA UM OLHO SÓ E VERA TUDO IGUAL
COM UM SÓ OLHO.
VIVA UM TEMPO SÓ E VERA TUDO MAL
EM UM SÓ TEMPO.
SINTA UM POUCO SÓ
E ENTÃO ME DIRÁ
QUE SÓ O QUE QUER É TER ALGUÉM A SEU LADO.

RECUERDO

Desejo
(não pretendo enumerar situações)
claro-escuro
descoberta
(a infindável promessa de muito).
tudo escuro.
sentido.
(a memória é uma merda)
mas eu desejo de novo .

ANOITECENDO O SENTIDO

o sol penetra a cortina do quarto

que sou (há sol ?)

e se põe à par do que acontece
comigo.

O sol é vermelho
e meus olhos escuros.
A cortina é vermelha
e o amor vagabundo.

MUDO

tenho
tudo,
contudo
a voz cala
e eu fico,

absurdo.

DESEJO II

a boca é a lâmina doce
que corta meu lábio
quando beijo a boca
a lâmina é doce
e corta meu lábio
quando sono-acordado
e mordo a boca dela.
é doce a boca que beijo
sonhando, meio assustado,
com aquele beijo
(nunca dado).

WITHOUT YOUR ARMS

ficar aqui
lugar nenhum
estar
somente.

morrer aqui
lugar nenhum
viver sonhando.

falar aqui
lugar algum
(creio que não seja necessário)

DESENCONTRO (23/04/90)

Maldita a mulher
que eu quis ser
o amor dela
e não pude ser
tudo dela
que eu quis ter
e não pude nunca
o amor dela saber
se eu podia.
Maldita a mulher
que eu sonhei ser
todo dela
o amor que era meu
e ela não entendeu

POEMEXPLICATIVO

Dirás que a palavra
não te bastas,
haja visto que não a digo
nunca mais, porém
é vero que a palavra
se desgasta,
se amarela com o papel. (ao sol)
Dirás sim que o amor
não te bastas,
mesmo sendo o amor
coisa irretratável
e eterno...o meu amor.

POEMAÇÃO

a velocidade da paixão
no homem é
relativa à forma e
ao feitio das palavras
posto que o poema
é ação
no momento exato
da saudade.

NOTHING MATTER - (01/11/88)

as coisas são o que são
e
quando não,
são o que eram,
mas,
a mim não importa
presente, passado,
pois,
no futuro
que se abra a porta
e é tudo uma coisa
só...

JUST TO READ (DONT' THINK ABOUT IT) (05/02/90)

Imagine a cidade sem luz,
imersa no mais escuro de tudo.
Agora repense o último ano
da sua vida,
da maneira mais sincera ou previsível.

Conclua então que a vida
confrontada com o mais
escuro de tudo
guarda em si ainda mais segredos que

é melhor acender a luz

em meio a este pseudo-poema.

POEMA MAIOR

Eu
Amo
Você .

(mas sem a inútil
e desprezível
coisificação
das palavras, verbos, adjetivos
ou quaisquer outras moléstias lingüisticas)

PRISÃO DE VERSOS

Não fosse o claustro
eu faria um poema
sobre a justiça cega
dos homens-lentes
que enxergam tudo
menos a justiça,
falsa e ausente,
feita aos poetas
que nunca mentem.

INCOMPLETO II - (11/09/90)

são duas coisas


que me fazem falta


neste início do poema:


VOCÊ e


algumas palavras


para que eu o conclua.

FROM HERE TO SOMEWHERE

nós dois nós um


em ZOOM


a imagem te engana


na cama.

THEY DONT'HAVE THE WORD

Wally said on a TV program:

- Que seja abolida a saudade !

Wally said and I was there,
lousy and crazy and amazed,
and there, on that moment
I felt what he was not feeling,
just saying as some shit-talk.

Wally was there and he said:

- Que se exclua a saudade.

And I shout, trying to ask
and to shot that Wally:

- Man! What'm gonna do
with my poems?
All those words I wrote to her ?

Tell me now

o que é que eu faço agora ?

Pois se a saudade acabar
eu esqueço dela e de tudo?

Could I allow myself to forget
a kiss?
the first one she gave me.
and the body of all my dreams,
do you know what'm gonna do with ?

I know what to do:
Turn off the TV...

e esquecer - com saudade.

THIS IS ALL I CAN SAY,BUT NOT WHAT I FEEL

Todo amor que se sente
trafega,
plácido e imune,
vertigem e matéria,
em meio aos olhos do mundo.

Não basta transformar o instante
em qualquer coisa eterna e descartável.

Deve se deixar sempre
a carne sentir o prazer da mordida,
enquanto desejo ou sentimento voraz de paixão.

Todo amor que se sente
deve, sobretudo,
ser devorado até a última gota
do sangue,
vermelho e viscoso,
que escorre dos lábios.

(é imutável o dia após o dia
desde que a vida se limite
a ser simplesmente mensurada).

Deve se ter presente
que não há desejo incompleto,
porém o amor mascarado;
não há mais espaço ou tempo,
porém paixão e saudade;
não há, nunca haverá,
o amor sem consumo de si
e o amor que se acaba,
pois,

todo amor que se sente...

MAIS UM POEMA DE ADEUS

Palavras !

quem dera tudo fosse na vida a palavra.

o som mais claro e possível

de tudo seria apenas palavra.

signo símbolo elemento.

E assim, a verdade de tudo
a palavra traria. (trairia ?)

Então a ação da palavra

faria o silêncio

e então seria o vazio,
de tudo seria o vazio.

No mergulho infinito

em direção a apenas

as duas últimas delas:

- AMOR e ADEUS !

A MÃO QUE NÃO ME TOCA

"Voar,
trafegar incertos olhos
vadios na noite."

A mão que afaga meu cabelo
é doce como a chuva e o desejo.

As ruas passam confusas.
(e foram tantas as ruas)
e é minha mão a que me toca
e flutua
à espera de que alguma coisa aconteça.


Concluo que não basta
semear o amanhecer,
é necessário que esta noite
saiba, impreterivelmente,
a verdade sobre tudo.

Minha mão, a que me toca,
faz com que eu me sinta
quase que feliz,
com os olhos fechados,
quando imagino não ser minha

esta mão que me toca.

"voar..."


(and your hands were there,
but was too late
when I got it.)

POEMA PRÁ NADA

Agora que o tempo é passado,
as mãos estão tremulas
e a dor que eu sinto
é uma realidade;

agora que os tempos são outros
percebo que muita coisa acabou

Agora eu percebo
que as pessoas
vivem me perguntando
se não sou outro,
um fulano de tal,
e constato no espelho
um rosto vulgar e comum
igual a tantos outros
na rua,
cuja identidade é apenas
um número
de cédula
que eu jogo na fogueira
dos meus pensamentos
e que se perde em cinzas
e se acaba
como eu e este poema,

completamente desnecessário.

POEMÁTICA

Se, ao invés de poemas
eu escrevesse problemas,
estes seriam equacionados
em partes distintas,
quatro partes
dispostas assim:-
- A primeira parte
uma questão clara
e concisa:

-Quantas mulheres você já comeu ?

Feita assim, selvagemente,
a questão-lâmina,
entrando em seus ouvidos,
dilacerando tímpanos e tampas.

- A segunda parte,
quando seu raciocínio confuso
se perderia em conjecturas inúteis/inertes
sobre amor, sexo, traição e afins.

- A terceira parte
meu sorriso de professor-poeta
ao menino obtuso
que não decorou o ponto.

e, finalmente:

- A quarta parte
de minha problemática apoética
que, sem dúvida, deve lhe dar a resposta:

- As mulheres só são comestíveis
aos canibais e/ou semi-mortos
de fome (nada a ver com tesão).

Como observação vale acrescentar
que a poesia
é o bordel das verdades.

DONT' DO IT (NOT AGAIN)

Não ponha nunca mais
sua mão esquerda
sobre meu ombro idem
nesta atitude de queixo
perpendicular ao braço
que cruza nossos corpos
como uma lâmina longa
- tênue e rósea -


(afastando como quem aconchega).


Não abra ainda mais
seus dois grandes olhos
-verdes-
vertentes torrenciais
de águas mornais/salítricas
que afagam e repousam o corpo,
mas sempre me deprimem a alma
em cataclismas/catarses
de estrelas no céu,
vertentes velozes-ferozes olhares
de águas mornais/salivais.


Esses dois grandes olhos
que me sabem todo
e me são o único mistério e segredo
no espaço vazio que existe entre
a pré-descoberta e a revelação
de um novo espaço de mundo
e eu começo tudo de novo,


Mas não ponha nunca mais...

CONSTA(T)AÇÃO

Um velho sai à rua

e

grita,

mas a cidade

não tem velhos,

nem ouvidos.

(Mas ele sai à rua).

E a cidade,

que tem bocas,

engole até o velho

que não tem e,

então,

absorve assim seu grito.

E o velho da cidade

espera a morte calado

e enfim o silêncio

deste velho é o que grita (e incomoda),

mas a cidade amanhece,

já esquecida...

AUTO-ABSTRATO

Faz um tempo frio
aqui
tão longe.

(so far, so far...)

As pessoas concordam
que as palavras
sejam muitas e que,
por vezes, me confundo,
e,
as confundo,
e há muito de verdade
nisso tudo,
posto que as palavras
sejam tantas e tão sós
e quando juntas são tão poucas
que exprimam o sentido exato
da idéia
do conflito
da ambígua relação
amor-paixao-desejo.

Há um código no ar,
um sinal, púrpura,
há palavras e sentidos
(in)contidos
sub-entendidos,

desculpas máscaras mistério e subterfúgios,

há o desejo, sobretudo.

Ainda há um grito que faz muito
eu minto,

há um grito...

CANTO DE VIDA E MORTE

Não há que se encontrar
a vida que se queira
assim, ao inesperado,
como quem encontra
um amor antigo
e diz olá ! e dá um beijo.


Não há que se querer
assim, se encontre,
avidamente,
como o homem que deseja
a mulher e então
ele a possui (animal-verdadeiro)
e dá adeus ! nem dá um beijo.


Não há que se temer
da vida que se espera,
assim, a invocar os deuses
e pedir socorro.


Não há o que temer
da vida que me espera,

assim,

não há o que viver,

fim.

ANGÚSTIA

Esperei que você viesse
em meio aos silêncios da noite,

mas fiquei assim,

num sono intranqüilo
de quem tem culpa
porque espera.


Desejei que você viesse,
sobretudo à noite,
ao som dos séculos no ar,

invadindo este quarto

intranqüilo de quem espera
porque tem culpa.


Amanheci que você viesse
em meio a tudo,
em meio à bruma,

em meio ao desejo e ao silêncio,

sobretudo, esperei que você viesse,

mas fiquei assim,

perdido em meio a tudo,
em meio à cama, ao vazio
da dor de quem espera.

POÉTICA

Antecedo-me ao instante
e protejo seu nome
com metáforas e sufixos
que projeto.
Precipito-me às palavras
e defendo seu sonho
com versos, rimas e sorrisos,

mas,

no fundo,


é tanta a dor que eu sinto...


A vontade que eu tenho é
de extrair do poema
o seu corpo
e perpetuá-lo -em êxtase-
nú-exausto
e projetá-lo ao vento
e proteje-lo no abraço
e, então, afastá-lo
do medo de amar
que ele sente.


E que me atiça o desejo
e me deixa sozinho
e me deixa tão cedo
e me causa um poema.

NO(N)SENSE

Realidade, cores, precipício,

fantasia(s).

Nonsense,

isto é poesia,

uma clara reflexão sobre-tudo

que é óbvio,

tudo que é ópio,

tudo que é ódio.

A poesia é uma (só)

palavra que se habla.

- THAT'S NONE OF YOUR BUSINESS!

Mas o que se diz
a uma mulher
não se repete
em conversas no bar.

O que se diz,
a quem se diz.
porque se diz...

Há uma clara alusão
à poesia, que se repete, e,

por várias e tantas
outras vezes,em conversas de amar.

Nonsense, isto, aquilo, a poesia.

- THAT'S NONE OF YOUR SENSE!

DORES DE AMOR

Não vou cantar o adeus

de seus dedos no ar,

é obvio demais !

Não vou lamentar

minhas solidões sem fim,

seria até muito fácil !

Não vou elevar minha lágrima

à condição da providência divina

ou clamar pela compaixão do mundo.

simplesmente me nego

a poetar sobre a não poesia

das dores de amor !

RAZÃO DE POETA

Não me diga de ontem
qualquer amor proibido
pois não há nada mais
que se possa fazer
pelo amor de ontem.


Não me venha, de qualquer maneira,
rebuscar trajetórias
se meu caminho é tão longe
e há tanta pressa em ir-se.


Porém deixe estar aqui a palavra,
posto que é tinta em papel,
qualquer papel,
que exale ainda o suor
de outros tempos,
mas mesmo assim
que se também desgaste.


Não ouso a poética insandecida,
não mais !
Haja visto tantos e outros
sucumbirem em batalha, sós...


Hoje eu quero uma razão de poeta,
e este, em sua essência,
hoje,
dá adeus...e vai...

Friday, May 11, 2007

LAVRAS

Palavras !
Eu vos quero
a hipocondria poética,
quero delimitar
a latitude
entre o nariz e o sexo,
quero a plena necessidade,
a ninfomania ortológica,
o gozo sufixo,
o amor indicativo,
a língua em ditongo.
Palavras !
Eu vos quero
não mais palavras,
porém nem tanto
amigas de outrora ( última hora ? ),
em vós
a sublime hipocrisia
de minha poética neurótica,
caótica-carótida,
em vós que o sangue escorra
e eu me lambuze os pés
em tuas letras esfaceladas.

FRAGMENTUDO

Os ponteiros do relógio
sangram horas aflitas.
meu coração é um barco
de papel
ancorado na sarjeta
(lilás)
da sua rua.
Um urso declama versos anarquistas
(sobre as flores)
da janela.
no apartamento
há uma janela
onde há
uma luz que (se) acende.
Meu coração naufraga em meio às flores, os versos
janelas, os barcos de papel.
Os ponteiros do relógio estancam
fim.

IDA E VOLTA

A mim pouco importa a volta
e se a gente volta assim
não faz falta
se a mim pouco importa.


(um tanto quanto a saudade
se desfaz em pó
no tapete da sala)


Enquanto a gente volta a mesma
tecla em novos sons
mas a gente insiste
e bate a porta.


Nunca na cara a mesma lágrima
é sempre a mesma dor
que volta,
mas a gente insiste
e abre a porta
e vai...

MOÇA

De repente
me pus a dançar
esperando o trem
e todos que ali estavam
se espantaram comigo:

- Mas se não é aquela moça triste ,
olhinho apagado ?

- Então a moça feia endoideceu
no lamento dos pecados nunca cometidos?

- Se não é a moça magra
que ainda ontem ali chorava ?

O que ninguém sabia
era que a moça feia,
a moça triste e magra,
mesmo que por um instante,
descobriu que em um lapso
da vida alguém havia
cantarolando a melodia,

- e eu dançava -

E alguém sabia (finalmente)
que a moça triste feia e magra
em si se redescobria
e aguardava,
guardando seu lugar,
no vagão do trem das moças magras,
feias, tristes e
apaixonadas...

MEUS OLHOS

Mil olhos são todos
que rondam nossos doces lares
espreitando insônias indivisíveis,
vigilantes á todos
os desejos reprimidos de cada dia.

Mil olhos são todos - vorazes -
desvestindo indevassáveis
paredes de concreto e aço
desnudando desavisados
corações repletos
de muito medo e algum pouco sangue.


Mil olhos revelam
escuridões sem fim
em toda a nossa claridade
e transparência.

Mil olhos...

estão todos cerrados,

alheios à tudo

- imunes -

distantes...

à todos olhares.

DESGASTADO POEMA

Por que
tantas
palavras
que
sussurras
em
meus
ouvidos
e
julgas
tardias ?

Não há tardias palavras,

o que ocorre

é um desgaste natural provocado

pelo uso abcesso/excessivo

através dos tempos (tantos tempos tantos)

um enfarte do jargão,

o completo colapso de qualquer sinônimo,

a taquicardia das metáforas ensandecidas...

DAI O POEMA ESTILHAÇADO !

POEM/EU

Um sopro de luz invade o quarto
e sonho,
porém não sei que sonho
ou ser real em minha idade.


Outrora sonho acordado
e também não sou o sonho
deveras fosse saber o (que) real.


A acidentada relação
entre sonhos
desejos
e palavras

habita a boca/cabeça de
pré-julgados poetas
em épocas outras (épicas?)


Mas meu sonho não foi você
e,
enquanto sonho
foste verdade
- eu nada mais/menos cada dia (não) sei
mas enquanto houverem tantas noites
e também sonhos,

eu acredito...

esquecerei.

AMADRUGANDO A SAUDADE

Em um gesto brusco
abro
a janela
e contemplo
estrelas

(por pouco não empalideço)

Penso

-você...

Acendo

-um cigarro...

(já é quase dia na ponta
desse meu cigarro)


Ah ! São tantas as histórias que tenho !

A escuridão da noite
acaricia e excita:

- o spray se desvanece no muro

que já não tem razão de ali estar.

VOAR...

.Trafegar incertos olhos vadios na noite-
conciliar-
metade nada ser-

ler incertos olhos e dedos e bocas

viajar-

purificar metáforas
metamorfosear
paixões e lágrimas

na cela de uma cadeia-
integrar o homem ao homem

como em um beijo-

gritar até perecer o instante

persistir

até o último instante

soltar a primavera prima dos dentes

e olhar vagabundo olhar de anjo-

face a face

olhar angélica-angelical - (a puta-mor)

de encobertos céus piratas
nas latas de sopa dos mendigos...
e gargalhar,
até sentirem que estou louco,
e aí,
completamente absurdo,
devo
morrer de amor...

CONCLUSÃO

O álbum de fotografias

ainda está sobre a estante

de cedro

na sala de estar,


sinto muito...

Talvez ainda falte

grana e gozo,

coragem prá mais

uma

no fim do dia,

Talvez ainda falte

um pouco



de

amor ou


um dia melhor prá se escrever um poema.

RECOMEÇO

Você me quis
ficar feliz,
porém não diz
eu ser
feliz.

Você me quis
ficar aqui,
mas
eu
não sei.

Foi tudo assim,
foi tudo bem,
mas
eu
não
fui.


Foi tudo assim,
foi tudo fim,
mas
eu
não
fui.


(sob qualquer outra colocação,
senão palavras, olhares
e todo e qualquer sentido,
o nosso amor mal começou ! ).

PERGUNTA

Esboço o traço
delineando
inter-relações
entre
paixões antigas
e
futuras.



Me projeto
-incontinente-
á margem,

- total ruptura -


Me guardo e projeto
sob o desenho
que detalha todas as visões e
prismas
meta contidos.


Me busco
sob
o desenho, no traço,

em cada linha,

relembro e renovo:


- Foram assim realmente tantas paixões?

ABSURDO ATO

São corredores e paredes
corações corroendo em sangue
celas de cadeia
ponteiros dos relógios (the fucking hours!)
Na densa fumaça
paira o segredo de anoitecer um dia
(em um instante corrompido o dia - trevas)
Não! Isso não é vida
que se apresente,
melhor se fazer ausente
como se faz um verso triste
tão logo surja a primeira lágrima.
Que se faça fértil no papel
a gota de suor em sua testa
e que seja um poema
nas estrelas
desta noite que não o é.

PROCURA

Por
entre
estrelas
persigo
palavras,

às vezes são vozes,

às vezes são tantas,

mas
nunca a palavra

me sai da garganta,

às vezes é medo,

às vezes é pouca.


Porém eu persigo num tempo futuro
de mundos distantes
às vezes palavras
por tantas e outras vezes
silêncios tantos.

nem
sempre
verdade,
nem
sempre
saudade,

nem sempre eu persigo.

- ADEUS,ATÉ...

O dia - em branco -
passa,
a nuvem passa,
saudades tenho,
seus olhos fogem.
Nos ponteiros do relógio
a agonia de cada segundo
que avança, violentando as horas.
Nem sei faz quanto tempo
mais que a gente não se via,
o que se fazia não era só,
e, enquanto a nuvem passa,
- verborragia -
o mundo se descobre sem vergonha
e mostra na carne as dentadas fundas
da noite escura, calada...
Amor, a gente basta,
só o que se não pode
e se deve não poder
e até que se possa querer

Wednesday, April 11, 2007

INFINITO PULSAR

Infinito

é trem que parte

à cada instante

de uma estação

inesquecida,

quando pulsa a veia

em tua coxa.


Infinito

ali do lado

é uma palavra -

pequena

pouca

doce e calma -

que ecoa simples nesse seu olhar.

PARA A RUA

A sombra do edifício
se derrama na esquina
do cruzamento
e ali morrem (atropelados)
nossos sonhos e esperanças.

Da janela que se abre para as ruas
e nos transforma - retina/íris
- arcos de lua e sol.

e todo grito,
da janela do edifício
faço comícios e poemas.

(no atropelo da palavra
escorre uma lágrima.)

Na janela fechada do edifício
morava um poeta
sem ofício
e com vertigens de povo
janelas edifícios
e poesia,
que ninguém sabia.

(ali não mora mais ninguém.)

Tuesday, April 10, 2007

FOTOS DE FAMÍLIA

Vejo que são tantos e muitos que aqui estão.
Penso que são todos (que minha cansada retina pode vislumbrar)
e sinto que não sei quantos são!
Nas fotos, estampadas imagens, cenas cotidianas, encontros
(há despedidas em cada encontro?).
Nas fotos pedaços de mais um dia que não vivi com todos.
E o meu dia -o que eu fazia exatamente no momento do click?
no que pensava? dormia? acalentava devaneios tolos
sobre tudo e sobre todos?
Quem eu era no exato momento?
-estava confuso? falante? mudo?
Quem eram todas aquelas pessoas que, de repente, eu redescobria?
Mais magros, mais gordos, mais ou menos felizes?
Quem somos? Os que estão nas fotos e os que não estavam lá?
De onde viemos? Para onde vamos?
Questiono por que nos encontramos,
se cada dia parecemos mais distantes?
Pergunto por que cruzaram-se nossos caminhos,
se cada dia trilhamos diferentes caminhadas?
Pergunto por que, na foto de família,
falta tanta gente e eu não sei quem são?
Pergunto enquanto revejo as fotos
e as lágrimas dificultam mais ainda reconhecê-los.

Saturday, April 07, 2007

ONTEM

Ontem
foi
o
mar
ali
onde
está
o
azul.

Ontem
foi
a-
mar
ali
onde
está
.
Ficar nu feito a pedra e o menino
na tela morta do cinema
de repente brilhar outro mundo
e me lançar ao mundo.

Eu
juro
que
não
quis
ser
profundo

simplesmente sorrindo.

À ESTA HORA

Foi ontem

ouvindo os versos de Florbella...

Teu vaso de antúrios

no peitoril da janela

ardia em chamas...

à esta hora na pastoral do templo

falava-se de um tempo antigo,

cheio de luzes e vida...

e,

no fundo do quintal da casa vizinha,

você sozinha,

sabia tudo.

SO MANY DAYS

Há quantos dias
um sorriso na janela brilha
e eu (só hoje lamento)
passava rápido
preocupando a reunião
de amanha, logo cedo,
no escritório ?

Há quantos dias
um sorriso na janela brilha
e eu (só hoje me dei conta)
passava rápido
rememorando memorandos
e as prestações atrasadas
do carro na garagem ?

Há quantos dias
a janela está fechada
e eu, só hoje, reparei ?

NOITE/DIA

Quero abrir a janela
e
mergulhar

(parafuso infinito)

-se me condenam
eu morro, seco e oco.


Só se me abre a cortina

Se me dão a palavra

. Eu prometo que não grito.

Quero abrir a janela
e
vasculhar as ruas da cidade

(parafuso torto)

como a boca do velho
que está para levantar
e eu me sento e o banco
está frio, um túmulo?

Ai que saudade!

E foram assim quinze anos
em que mergulho toda manha
e acordo
embosteado de sonhos...

AO POETA

cabe tudo:
- amor
ódio,
lugar comum
lugar nenhum,

cabe a máscara,
a farsa,

a verdade plena,
por mais intrínseca,
o gozo absoluto.

No poeta mora o medo,
a Mão divina,
a arma, o tiro.

Ao poeta cabe a letra
e toda tentativa que nunca vã
de sempre e muito mais
alguma coisa que seja.

Eu fico triste e só.
tão somente,
mas nem tão triste,
porém tão só.


às vezes latente no peito sinto a dor
e, bem lá dentro, fico ausente,
mas já não me sei tanto doente
apenas por amor.


Há dias irretratáveis,
apoéticos, imemoráveis,
há tempo de muitos tempos atrás
da porta, ao redor de tudo,
tentaram que eu engolisse o mundo.


- Que o mundo foda-se
nada é mundo, tudo é partícula de átimo,
microcélula, microastro, tudo é nada!


E eu fico aqui, nem tão triste,
um pouco só,
você ai...

TUDO

A aranha tece a teia de suas tramas
na cama de areia
(as areias cristalinas
onde escrevi seu poema).

Amanhece a manhã feia
e as tramas de sua teia
amanhecem
e no centro da cidade
há muitas pessoas
e muitas outras cidades
e centros de cada pessoa
na mesma cidade.

Feliz (cidade)
há sempre um grande amor
em toda tragédia urbana
e uma grande necessidade
da gente se ter e se matar...

A aranha tece sua teia
alheia à minha tristeza.

SAUDADES

Teu beijo em minha boca fica
é
dia
em minha boca aflita

Teu beijo

e minha boca sente
e é quente
o teu beijo ausente.

Minha mão no teu cabelo voa
meu pelo no teu pente (a toa)

Que nada do que fui será seu nome
meu medo no teu lábio sangra.

O tempo que não fico
e o que temo é nada, se não sou eu.
Metade do que somos nada cresce
além nada
mais nada
tudo ou nada
é sempre assim...

meu bem/mal - te odeio/amo,

mas,
nunca mais,

eu não te quero mais
ficar sozinho.

À NOITE

SONS
DE
TEUS
SONHOS
ESTREMECIAM
AS
PÁLPEBRAS
DAS
JANELAS.

(nos jardins suspensos
pendiam versos extenuados).

TEUS
CABELOS
INVADIAM
MEU
SONO
FEITO TEIAS-TÊNUES-TENAZES,
E,
DE
REPENTE
OS
SONS
DE
TEUS
SONHOS
PREENCHIAM A NOITE,
REVELANDO
OS
TANTOS
SILÊNCIOS
DOS
SONS DE TEUS OUTROS SONHOS
NOTURNOS.

PACTO

Era uma tarde de domingo,
falsamente calma,
pairava ainda no ar
o calor de fevereiro,
e, em nossa farsa,
trama de amor antigo,
desenvolvia-se pleno
nosso amor verdadeiro.


Por vezes soubemos
i-ludicamente contornar
nossas diferenças,
entretanto os contornos
de seus gestos
delineavam meus projetos,
e, os traços em nossos corpos
lembravam ainda, mesmo que distantes,
nossos tratos de amor em silêncio.


E assim fora feito o trajeto,
início e fim,
fora lento teu gozo,
por mais que se é feito
vulgar se manifesto
nosso ato é um pacto de continuidade eterna.


Anoitecia já o domingo
e, no escuro,
nossas máscaras,
no chão,
sorriam.

MASTURBATO

Todas as noites
te espero - ansiosa -
meu peito arde - em chamas -
te chamo...e o silêncio invade o quarto.

Meu bico esquerdo aparece
e brinca (quente e árido)
pêlos furinhos da camisola branca

(aquela que você viu o mês passado
na loja da cidade e disse ter me imaginado
na vitrine da loja, imóvel, a te esperar.)

e pula - róseo infinito -

Meu bico esquerdo acende
feito semáforo...
(lá fora um carro passa)
e meus seios doem
e o umbigo pulsa,
meus dedos são pares de uma valsa antiga,
as coxas melam,
meu peito é teu peito forte e quente...

Meu peito longe
e você chama - meu peito -
meus dedos dançam
e lamento a distância
vibrando um prazer ausente.

AT(O)

Não serei Rei do teu povo

por razoes óbvias -

Não sou general ou, ao menos, poeta...

Mas sei que o que queres é só um Rei,
mesmo que roto, mas sempre majestade,
nem te importa se realmente eu ou outro,
mas realeza;
porém não aceito o encargo de Rei,
prefiro a mim teu servo artesão,
sou mais coroa de louros
que o peso de todo teu ouro,
sou muito mais o bobo da corte,
frágil, sorrindo ao forte,
gargalhando monólogos desvairados
e passando a Mão na rainha.

A ti só um Rei a teu povo
um Rei de pau de espadas
fincadas na carne,
para depois conversar caveiras
bebendo "scotch on the rocks".

Lamento, mas não quero ser Rei,
me basta o membro e a palavra,
meu vasto membro que lavra
toda a fertilidade da tua península pubiana.

(GOD SAVE THE KING!)

Friday, March 30, 2007

SAUDADES (para meu pai, Ismael)

Pai,

Lembrei de muitas coisas vividas, também de grandes amigos que tive e hoje não faço nem idéia de onde estejam ou o que façam.
Senti muitas saudades de voces também, lembrei até dos finais de semana no clube...tudo era tão inocente e...bonito...principalmente pela simplicidade do que era tudo.
Eramos felizes de um pequeno jeito grandioso, que não cabia em lugar nenhum porque se esparramava por todos os lugares.
Eramos felizes...não tinhamos problemas e, mesmo assim, nos torturavam as provas da semana que vem, as garotas que não nos olhavam e pensávamos até em nos matar por uma delas.
Eramos felizes...as dores que carregavamos eram das pernadas do futebol, dos tombos na grama, eram fáceis, até gostosas.
Eramos felizes pois não tinhamos saudades, nem do que ainda não tinhamos vivido, tudo era só esperança, expectativa, uma ansiedade maravilhosa pelo dia seguinte quando as luzes se apagavam.
Hoje somos felizes, mas de um jeito triste.
Aprendemos muitas coisas, carregamos muitas coisas, sofremos demais e foram perdas demais.
Somos felizes de um jeito melancólico, comedido, porque aprendemos assim, porque vivemos assim.
Talvez sejamos felizes hoje mas, e amanhã? como estaremos nós?
Onde estaremos?
seremos felizes?

HÁ MUITO TEMPO QUE JÁ SEI NADA SABER...

...porém meu destino é poetar angústias barrocas em teus seios fartos
sou sem sons nem luz, amiúde a palavra inventa-se - forasteira,
precipita-se abismática, colore-se branca nuvem
e tudo é nada no centro dos meus olhos
que, é claro ! te olham por ti, sem fronteira...
Há muito tempo faz aquela madrugada já desvirginou...um pedaço de vidro
estilhaçado na janela cortou ao meio
o meio de um pássaro (preto)
(and never more I had eyes to see her
in the sky as a star,
and I've tried so much to be mine
what could never be, e você me deixou...)
Carece o tempo de mais tempo sempre e sempre não tenho tempo
de me fazer vento e em teu rosto
fustigar meus medos e bocas mil...
Mas a gente tenta todo dia, todo o tempo,
te grampeio a linha mestra
condutora de orgasmos multifacéticos em meu sexo
e instrumentos eletrônicos me torturam
com a potência do teu membro e do teu gozo
que me invade.
Sempre todos querem morto (a mim) - vivo morto -
e com meu sangue bebem o fel de cada dia
e, em um lapso, fica no ar o golpe fatal.
Essa máquina de me fazer olhos aflitos
não convence
esse coração vagabundo
e me transformo em borboleta
(metamorfoseio-me em instante)
quando tua rede de suspeitos suspiros
me invade e voa (vôo?)
Sou cidade vila bairro periferia
sou nossa saudade
a idade mídia e o marketing nas esquinas
pública idade impudica.
Há muito tempo já saber não faz falta
o que não se sabe de um passo fica na areia,
no entrepasso da contradança da vida
e teu espaço delimitado já não te deixa saída,
fica pouco, pequeno demais...
porém meu destino não tem destino!
( e jorra sangue dos teus seios fartos)

MIRA/MIRROR

Metamorfoseio-me instante em busca do teu corpo
que arde em palavras tipo chão calor viagem
e etcéteras mil...
Juro que, de repente, me reflito, mas não te amo
me amo
me sumo
te como,
mas como labutar em versos?

A tinta rola/escorre pelo orifício de um poro

esquisito - aquecido - esquecido.

Te sinto rememorar passados inesquecidos
onde são o que são
corações mãos pernas e dedos
e em teu corpo transpiro imagens,
me liberto o inseto em vôo
e lamento a guerra e a fome
vivendo em paz e de barriga cheia
nunca dispensando o vinho - branco -
como a incerteza que amanheça em mim...

Te sinto escorrer pelo vão dos dedos,
na barriga no umbigo pela coxa esquerda,
te sinto sob meus pés
me pisoteando em qualquer sarjeta lilás.

Solto as feras, as amarras
grito que me perde no espaço.

Que porra me pede a lua rebolando no reboco
da janela?

Meu rosto no espelho
são crateras que ardem em fogo (fátuo)
sob meus olhos se processam
mil reações químicas
e vomito nossa podridão na pia do banheiro.

UM MEDO

Receio que no meio dos


seios


da mulher amada


se


apunhale um punhal


de prata


e a areia da praia,


(tão quente e molhada)


fique manchada do sangue


(da mulher amada)


Receio que as virtudes
mais belas se transformem
e, assim,
elas se formem
em palavra
que um poeta qualquer
usaria em seus versos.