Wednesday, April 11, 2007

INFINITO PULSAR

Infinito

é trem que parte

à cada instante

de uma estação

inesquecida,

quando pulsa a veia

em tua coxa.


Infinito

ali do lado

é uma palavra -

pequena

pouca

doce e calma -

que ecoa simples nesse seu olhar.

PARA A RUA

A sombra do edifício
se derrama na esquina
do cruzamento
e ali morrem (atropelados)
nossos sonhos e esperanças.

Da janela que se abre para as ruas
e nos transforma - retina/íris
- arcos de lua e sol.

e todo grito,
da janela do edifício
faço comícios e poemas.

(no atropelo da palavra
escorre uma lágrima.)

Na janela fechada do edifício
morava um poeta
sem ofício
e com vertigens de povo
janelas edifícios
e poesia,
que ninguém sabia.

(ali não mora mais ninguém.)

Tuesday, April 10, 2007

FOTOS DE FAMÍLIA

Vejo que são tantos e muitos que aqui estão.
Penso que são todos (que minha cansada retina pode vislumbrar)
e sinto que não sei quantos são!
Nas fotos, estampadas imagens, cenas cotidianas, encontros
(há despedidas em cada encontro?).
Nas fotos pedaços de mais um dia que não vivi com todos.
E o meu dia -o que eu fazia exatamente no momento do click?
no que pensava? dormia? acalentava devaneios tolos
sobre tudo e sobre todos?
Quem eu era no exato momento?
-estava confuso? falante? mudo?
Quem eram todas aquelas pessoas que, de repente, eu redescobria?
Mais magros, mais gordos, mais ou menos felizes?
Quem somos? Os que estão nas fotos e os que não estavam lá?
De onde viemos? Para onde vamos?
Questiono por que nos encontramos,
se cada dia parecemos mais distantes?
Pergunto por que cruzaram-se nossos caminhos,
se cada dia trilhamos diferentes caminhadas?
Pergunto por que, na foto de família,
falta tanta gente e eu não sei quem são?
Pergunto enquanto revejo as fotos
e as lágrimas dificultam mais ainda reconhecê-los.

Saturday, April 07, 2007

ONTEM

Ontem
foi
o
mar
ali
onde
está
o
azul.

Ontem
foi
a-
mar
ali
onde
está
.
Ficar nu feito a pedra e o menino
na tela morta do cinema
de repente brilhar outro mundo
e me lançar ao mundo.

Eu
juro
que
não
quis
ser
profundo

simplesmente sorrindo.

À ESTA HORA

Foi ontem

ouvindo os versos de Florbella...

Teu vaso de antúrios

no peitoril da janela

ardia em chamas...

à esta hora na pastoral do templo

falava-se de um tempo antigo,

cheio de luzes e vida...

e,

no fundo do quintal da casa vizinha,

você sozinha,

sabia tudo.

SO MANY DAYS

Há quantos dias
um sorriso na janela brilha
e eu (só hoje lamento)
passava rápido
preocupando a reunião
de amanha, logo cedo,
no escritório ?

Há quantos dias
um sorriso na janela brilha
e eu (só hoje me dei conta)
passava rápido
rememorando memorandos
e as prestações atrasadas
do carro na garagem ?

Há quantos dias
a janela está fechada
e eu, só hoje, reparei ?

NOITE/DIA

Quero abrir a janela
e
mergulhar

(parafuso infinito)

-se me condenam
eu morro, seco e oco.


Só se me abre a cortina

Se me dão a palavra

. Eu prometo que não grito.

Quero abrir a janela
e
vasculhar as ruas da cidade

(parafuso torto)

como a boca do velho
que está para levantar
e eu me sento e o banco
está frio, um túmulo?

Ai que saudade!

E foram assim quinze anos
em que mergulho toda manha
e acordo
embosteado de sonhos...

AO POETA

cabe tudo:
- amor
ódio,
lugar comum
lugar nenhum,

cabe a máscara,
a farsa,

a verdade plena,
por mais intrínseca,
o gozo absoluto.

No poeta mora o medo,
a Mão divina,
a arma, o tiro.

Ao poeta cabe a letra
e toda tentativa que nunca vã
de sempre e muito mais
alguma coisa que seja.

Eu fico triste e só.
tão somente,
mas nem tão triste,
porém tão só.


às vezes latente no peito sinto a dor
e, bem lá dentro, fico ausente,
mas já não me sei tanto doente
apenas por amor.


Há dias irretratáveis,
apoéticos, imemoráveis,
há tempo de muitos tempos atrás
da porta, ao redor de tudo,
tentaram que eu engolisse o mundo.


- Que o mundo foda-se
nada é mundo, tudo é partícula de átimo,
microcélula, microastro, tudo é nada!


E eu fico aqui, nem tão triste,
um pouco só,
você ai...

TUDO

A aranha tece a teia de suas tramas
na cama de areia
(as areias cristalinas
onde escrevi seu poema).

Amanhece a manhã feia
e as tramas de sua teia
amanhecem
e no centro da cidade
há muitas pessoas
e muitas outras cidades
e centros de cada pessoa
na mesma cidade.

Feliz (cidade)
há sempre um grande amor
em toda tragédia urbana
e uma grande necessidade
da gente se ter e se matar...

A aranha tece sua teia
alheia à minha tristeza.

SAUDADES

Teu beijo em minha boca fica
é
dia
em minha boca aflita

Teu beijo

e minha boca sente
e é quente
o teu beijo ausente.

Minha mão no teu cabelo voa
meu pelo no teu pente (a toa)

Que nada do que fui será seu nome
meu medo no teu lábio sangra.

O tempo que não fico
e o que temo é nada, se não sou eu.
Metade do que somos nada cresce
além nada
mais nada
tudo ou nada
é sempre assim...

meu bem/mal - te odeio/amo,

mas,
nunca mais,

eu não te quero mais
ficar sozinho.

À NOITE

SONS
DE
TEUS
SONHOS
ESTREMECIAM
AS
PÁLPEBRAS
DAS
JANELAS.

(nos jardins suspensos
pendiam versos extenuados).

TEUS
CABELOS
INVADIAM
MEU
SONO
FEITO TEIAS-TÊNUES-TENAZES,
E,
DE
REPENTE
OS
SONS
DE
TEUS
SONHOS
PREENCHIAM A NOITE,
REVELANDO
OS
TANTOS
SILÊNCIOS
DOS
SONS DE TEUS OUTROS SONHOS
NOTURNOS.

PACTO

Era uma tarde de domingo,
falsamente calma,
pairava ainda no ar
o calor de fevereiro,
e, em nossa farsa,
trama de amor antigo,
desenvolvia-se pleno
nosso amor verdadeiro.


Por vezes soubemos
i-ludicamente contornar
nossas diferenças,
entretanto os contornos
de seus gestos
delineavam meus projetos,
e, os traços em nossos corpos
lembravam ainda, mesmo que distantes,
nossos tratos de amor em silêncio.


E assim fora feito o trajeto,
início e fim,
fora lento teu gozo,
por mais que se é feito
vulgar se manifesto
nosso ato é um pacto de continuidade eterna.


Anoitecia já o domingo
e, no escuro,
nossas máscaras,
no chão,
sorriam.

MASTURBATO

Todas as noites
te espero - ansiosa -
meu peito arde - em chamas -
te chamo...e o silêncio invade o quarto.

Meu bico esquerdo aparece
e brinca (quente e árido)
pêlos furinhos da camisola branca

(aquela que você viu o mês passado
na loja da cidade e disse ter me imaginado
na vitrine da loja, imóvel, a te esperar.)

e pula - róseo infinito -

Meu bico esquerdo acende
feito semáforo...
(lá fora um carro passa)
e meus seios doem
e o umbigo pulsa,
meus dedos são pares de uma valsa antiga,
as coxas melam,
meu peito é teu peito forte e quente...

Meu peito longe
e você chama - meu peito -
meus dedos dançam
e lamento a distância
vibrando um prazer ausente.

AT(O)

Não serei Rei do teu povo

por razoes óbvias -

Não sou general ou, ao menos, poeta...

Mas sei que o que queres é só um Rei,
mesmo que roto, mas sempre majestade,
nem te importa se realmente eu ou outro,
mas realeza;
porém não aceito o encargo de Rei,
prefiro a mim teu servo artesão,
sou mais coroa de louros
que o peso de todo teu ouro,
sou muito mais o bobo da corte,
frágil, sorrindo ao forte,
gargalhando monólogos desvairados
e passando a Mão na rainha.

A ti só um Rei a teu povo
um Rei de pau de espadas
fincadas na carne,
para depois conversar caveiras
bebendo "scotch on the rocks".

Lamento, mas não quero ser Rei,
me basta o membro e a palavra,
meu vasto membro que lavra
toda a fertilidade da tua península pubiana.

(GOD SAVE THE KING!)