Friday, January 30, 2009

DEVANEIO OBTUSO

agora reflito sobre meus desejos,
no escuro da noite eu reflito,
e repenso o tesão e o amor,
a lâmpada e a estrela,
a cor e a fumaça.

não ouso em relação à profundidade
do que sinto, porém, não temo a
vergonha e a solidão dos que tanto
querem. (porque não quero)

nunca é completo um desejo,
sendo que existem tantos,
portanto não gosto disso ou daquilo,
eu gosto de tudo e odeio de tudo um pouco.

e quando me entrego e fico a deriva
margeio o inconsciente rebelde
que luta contra mais uma ferida aberta
na carne do corpo sentindo desejo.

à margem das coisas que eu sinto
está o que também sinto e não confesso,
porém sinto, em relação ao que é profundo
uma grande vontade de me atirar
e morrer (de novo) em seus braços
que sempre estiveram a impedir a queda.

Lamento não morrer agora.

CONCLUSÃO

Primeiro
o sol (sem licença)
irrompe em cena:

- Ela me disse que o amor
é uma ilha deserta
repleta de lobos vorazes
e suicidas.

e eu disse que o desejo
é um coração sangrando
guardado (em éter e vodca)
em um vidro de maionese.

Depois
a lua (tão triste e branca)
toma o lugar do sol:

- Ela me disse
que o passado é o cometa
vadio da história do mundo
(ele passa e passa).

e eu disse que tudo
é mentira e felicidade
enquanto nos amamos.

Então
o céu explode de tanto sol e lua
e ela me disse:

- Cometa o absurdo
do amor sem ciúmes
e isso não é amor que se ofereça.

AQUI SÓ

me deixem aqui
sozinho
pensando
na maneira
mais doce
de dizer adeus.

me deixem aqui
triste e sozinho
pensando
no que ela
não pensou
e partiu.

me deixem portanto aqui só.

MORE AND MORE

Algo mais que um momento
qualquer
que se tenha vivido
uma noite qualquer.

Algo mais que fosse
um medo da vida
e de uma morte
qualquer que se tenha.

Algo mais que o espaço
pequeno do quarto
onde se espera
o exato momento
de ser feliz,
qualquer que seja
a felicidade, ou,
algo mais que ela mesma.

Algo mais que se diga
ou se saiba
a respeito das coisas
de qualquer maneira
algo mais que se tenha perdido
e ficou incrustado na rocha

de um momento qualquer.

MENSAGEM

CONSTRUO

FORMAS

DE

NADA

QUE
SÃO

TANTAS MANEIRAS TOLAS

DE

DIZER

AS COISAS TODAS DO JEITO CONCRETO E

SEM JEITO

QUE EU SEMPRE DIGO E VOCÊ NÃO

ESCUTA

DO JEITO QUE EU QUERO

DIZER.

THERE WAS A NIGHT

A noite é
a privada de todos os sonhos
que por ela escoam /escorrem
e então amanhece o tempo e
o dia
impropriamente
higiênico - etéreo,
um tempo intranqüilo
de coisas vazias
um tempo de tudo
um dia de merda.

DE QUANDO EU JÁ TE AMAVA

é loucura
imaginar
iluminar
o luar
da rua
assim
tão clara
e nua.

é loucura
imaginar
sua paz
serena
(e amena)
e a carne
e o meu
poema.

é loucura querer seu corpo e sua alma
banhando meus desejos de voar pra sempre.

é loucura
imaginar
o mais carnal poema
que tenha sentimento puro de
se estar aqui prá sempre.

é loucura
imaginar
que é loucura.

FIM DE NOITE

Entorpecido
vagueio
esquecido e
prometo não chorar...

invento uma desculpa
e grito,
odiando estar aqui sozinho.

Entorpecido,
procurando na noite
a mulher que eu não tenho,
vagueio
esquisito e
prometo não chorar...

esqueço a poesia
e, num ato final,
envolvo um copo frio
de uma bebida quente

e trago um cigarro (medíocre e inconseqüente)

e já não sei porque estou aqui...

Entorpecido.

ESTA CIDADE (Bauru-SP)

Na cidade da solidão
repenso os versos de ontem.

metade do que sou
eu nada sei
e, por tudo que acredito
eu vivo a metade do que sou.

está faltando um pedaço
que eu perdi algum dia
em alguma cidade passada,

está faltando demais.

Notícias vêm de longe
e longe tudo acontece.

Sometimes I think that I'll
never more see your face,
I think on your red lips,
I remember...

Na cidade da solidão
repenso versos que escrevi,
e sinto saudades de tudo.

ÚLTIMO POEMA

é pelo imperativo do que sinto
que as palavras que eu digo
ecoam pela cidade
e me voltam vazias e sem vida.

(o auto-poema nunca é uma farsa)

é pelo imperativo do que sinto
que ouso esclarecer o passado,
passo a passo
e esboçar um sorriso (tímido).

- não mais dissimular sentimentos
com versos confusos e olhos baixos.

(o poeta se despede da poesia,
todo dia, todo dia.)

é chegada enfim a hora,
quando voltar é ter que ir
e já não representa mais chegar,
porém, fugir.

um beijo...adeus
(mente quem diz que o poeta é um fingidor).

DEPOIS DO ÚLTIMO POEMA

A rima caótica em meu pensamento
não pulsa no compasso
da veia carótida ligada ao meu coração.

receio a pieguice
do verso romântico,
mas é assim que eu vivo,

e,
as palavras confusas que uso
declaram assim
tudo que sinto
e você fica assim
nessa impassibilidade eloqüente
de musa perfeita
dos meus poemas sem fim.

porém eu insisto em não dizer nada
e,
covarde que sou
aguardo ansioso
que tudo aconteça.

sou apenas agente dos meus versos

e vítima dos seus olhos.

JUST A LITTLE BIT MORE...OF LOVE!

O amor, poucos se lembram,
mas devia ter sempre
o gosto do medo
que só o não de quem se ama
provoca.

A sensação de pânico permanente
frente à perda,

(o amor se perde, por instantes,
e se volta a ter, sempre !)

O amor, poucos sabem,
devia dar sempre a impressão
de pedaço,
fração da eternidade
no tempo finito
de nossa vidas
que se cruzam.

Do amor deve se falar
sempre,
com a consciência plena,
mesmo que poética,
que cada vez mais uma vez
e de uma maneira,
cada vez de um amor igual
e um diferente,

com a sensação plena

de fuga

em direção

ao encontro.

CONSTATAÇÃO

Amanha,

quando você acordar

e eu estiver distante,

então seremos menos felizes.

Neste momento,

mesmo com o desejo

latejando ainda em nossos corpos,

a saudade já será clara,

delineada em palavras, figuras,

pernas, coxas e dedos.

- A saudade já será toda nossa.

Amanha

tudo será de novo

como sempre foi,

antes e depois do amor

e depois de amanha

estarei de volta,

mas já não seremos iguais,

porque hoje nunca é todo dia.

CENA

Ver-te

nunca mais

hoje.

Era triste a cena

embriagada

amena a tarde

porão de madrugada.

Ver-te

nunca mais

ontem

como o vento na vela da procissão

a chama que cala o grito,

mas se propaga

intento vão.

Memória fica na palavra

largada ao muro

em um gesto doce

como uma lâmina em meu pulmão.

DE BOCA ABERTA

Na janela abro

os olhos

e
a
boca e

vejo

qual nada vejo e venho às pressas

venho e vejo

que nada o que!


Ousar um grito na janela

usar o corpo nu - vulto

visualizar imagem

sangue - precipício

me precipito e sonho.


QUAL NADA VEJO E VENHO

COM A LUA

MÃOS DADAS,

AVANTE !

POIS A MORTE NOS ESPERA AMANHA.