Friday, January 18, 2008

ESTE DIA

Pensamentos poucos/parcos que me passam neste dia
cabisbaixo (o pensamento e a vida)
óculos e cabelos pretos e o céu azul misturam-se
(numa improvável combinação de cores e coisas)
na cabeça e aos olhos das pessoas é mais um
que passa cabisbaixo.
Sentimentos todos/tolos que me passam neste corpo
deitado na grama do parque atrás do edifício
que se impõe ao dia e este a ele e o prédio
permanece fútil, porém imenso,
suspenso no ar da vida.
E mais algum tempo janelas e cidades se fundem
como os carros e as pedras a pele e a poeira
a pele e a madeira da árvore nua do parque
atrás do edifício que resiste (também à árvore).
E me percebo uma pedra imóvel/inútil que é nada
mas já foi poesia, me percebo metade corpo
metade sentido, um pouco cansado da pedra
um tanto arredio e saudoso e me calo,
como que se estivesse hablando de otras cositas.
E me empurro em direção ao abismo, também atrás
do edifício, (que ainda existe), e mergulho
e acho que gosto e sinto que vôo e vou acabar
em direção à nada ou ao fim.
E sinto que ninguém percebe, nem a milícia, nem
minha mãe, meu chefe não se dá conta, nem a mulher
que eu amo, ninguém.
E mesmo assim os pensamentos são rasos,
- Esqueci de apagar a luz ?
Mesmo assim sinto tudo e me sinto agora tolo,
porém todo, completo, eu e a morte
que vai ser com a cara na pedra que vai secar
meu sangue escorrido.
E me sinto fim e quando a pedra bate nas outras
pedras no fundo do abismo atrás do edifício
algum rumor de barulho no ar,
ALGUM RUMOR DE POESIA
e a vida assim se acaba
e termina.

(Set/90)

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