Friday, January 18, 2008

POEMA DA CIDADE SUJA

Os trilhos reluzem as luzes das lanternas do trem
que trilha um caminho torto em busca de não sei
onde.

Um dia você chamou de amor o que eu disse que era
só carinho e, então, você e eu fugimos,
cada um seu lado fuga, e, partimos, cada um,
porém sempre lado a lado,
fugindo como quem não tem pressa.

Um trem vive em seus trilhos e na raiz de seus
movimentos estanca o sangue dos minutos de atraso
de todo dia.

Naquele dia você disse ainda que não podia
um amor assim tão claro, confesso e declarado
ser tão mascarado e covarde e depois esqueci tudo

E aí você me volta linda e sorridente, várias
vezes, e, por duas vezes dessas eu soco sua cara
linda que sorri ainda e eu senti tão fundo
o amargo de seus dentes em minha carne podre
que quis morrer de novo em seus braços
(agora para sempre)

Passei anos da vida toda construindo versos
quadrados, redondos, hexagonais e patéticos;
mascarando palavras puras, transformando o amor
em sexo (só); iludindo o mundo eu, iludido,
escrevia versos pêlos anos da vida toda.

Você sorriu e seu sorriso falava...me atirava
na cara os dias difíceis, a revolta por tudo
que tem acontecido, por eu ter me tornado tão
fraco e poético, tão mudo e amargo,
tão cedo e tão tarde,
por eu ter me tornado tão merda e tão nada.

Já mais nada tem a ver ou a ser visto, que seja,
pois já mais nada importa, respostas, poemas,
palavras e sentimentos ao léo.
Já não há mistérios quando o sol se abre em fogo
e seus olhos cheios de mistério e desejo
(quando estes se confundem) brilham muito e assim
é que você sorri e já não tem mais nada além disso
e eu prossigo meu caminho de trilhos de trem.

Meu caminho à toa, metade passos, metade esperança
de andar; meu caminho é a cidade sem fim de um
mundo vazio.

A cidade metáfora que construi mundana e possui
pesaroso.
A cidade poema que realizei sem sucesso.
A cidade problema
de janelas e luzes oblíquas,
(as luzes mistério)
e exílio de mim em mim mesmo.

Cidade de corações vadios cintilantes.

Cidade patê " foie-gras "
feijoada baseado

em tudo a cidade suja - a viagem cidade

A cidade é o mundo, contudo é pequena
pra todo espaço que tenho.

E aí você foi embora e com você todos partiram
e então eu fiquei sozinho,
carente de amigos,
carente de amor,
eu e a cidade suja.

E aí acabei meu poema.



(Jul/90)

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