Friday, January 18, 2008

POEMA DO ADEUS

Por favor apague a luz, pois não lhe dou o direito
de saber dessas minhas lágrimas, porém que fique
bem claro:
-Nunca serão estas as últimas.
Todo adeus é sempre encontro, é sempre sendo nunca
a despedida e cada uma delas uma porta aberta,
sempre a (re)descoberta do ser só, da profundidade
do interior da sala de jantar.
Todo não é sim, é par; falsa a teoria do
" eterno enquanto dure " , posto que só há a
eternidade no que não se desgasta:
Todo grande amor é falso desde que conceda,
desde o primeiro olhar,
desde que um deixa de sê-lo para incorporar-se
fundir-se a outro para que dois num impossível
instante, sejam um apenas.
Deixe que voe assim meu devaneio, em silêncio
(que é só o que resta de tudo),
mas não devore a poética caótica
enlameada na sola dos meus sapatos.
Hoje faz-se inútil o verso,
seja calmo ou movimento em chamas.
Se já faz tanto tempo ?
Dias, meses, anos, segundos,
- Será que realmente isso importa?
O que importa agora?
O que na verdade existe?
Não! Nunca as palavras se pretendam eternas!
Elas se movem
se mudam
Elas nunca se bastam,
Elas se batem,
se amam loucamente
se procuram e se beijam,
As palavras, de repente transformam teu gesto de
adeus em convite, mas assim o fazem sem truques
sem lances de cena, assim o fazem de cara limpa
cada palavra, cada letra é um grande e lindo
poema.
Deixo à você nenhum legado, porém deixo-lhe muito
toda a imensidão de um espaço vazio para que você
preencha.
A mim ? O que fica ?
Não se importe com isso...
A mim resta a solidão do ar.
Meu corpo já não mais cheira seu perfume.
Não vá dizer nunca daquela mesa de bar,
posto que antes ou depois foi sempre a mesma
mesa, inerte,
e nossas mãos por sobre a mesa
por ela não foram sentidas ou tocadas.
Da mesma maneira as ruas, as flores, o céu
e tantas estrelas.
Não diga nunca de nosso amor, talvez ninguém
acredite,
ou, que se diga antes do efêmero, do passageiro,
da ida e da volta, da cidade e do campo,
mas não se fale mais de amor
não se fale mais
não se fale
não se
não
não se fale mais de ontem,
pois olhe, já amanheceu o dia e já é outro o sol
que brilha, já é outro o rosto no espelho,
já é outra boca no rosto que se olha no espelho,
são outros olhos...
e, nesta imagem, não há qualquer cicatriz, Adeus.

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