Sunday, December 23, 2007

“AO VELHO SUICIDA”

“OVERTURE”

Lento pulsar
de vozes no ar,
tensionadas ao limite
dos sons
que se espalham,
arfando tardias palavras
úmidas e vorazes,
fatigadas
quase mudas.
perceptivelmente articuladas ao extremo,
exageradas, ausentes, palavras de
desespero e completa solidão,
balbuciadas,
insaciadas palavras
atiradas pela janela dos fundos
do andar mais alto do prédio
velho
onde morava só
o
velho
e suas frases de efeito
que se foram com ele
atiradas ao vento.

“PERSONAL IMPRESSIONS ”

Busco imaginar
seu conflito,
o medo intrínseco,
a lama na sola dos sapatos,
as marcas de sangue no chão.
Busco perceber seu corpo
em voô
seu ritmo cardiaco
sua língua de fora.
Tento resgatar seus sentidos
no último sopro de vida
de encontro à pedra
em meio ao nada.

“CONCLUSION”

Talvez haja uma razão que eu não saiba
talvez até um pouco de poesia
em seu gesto final,
concluído.
Abandonado entre as quatro paredes
do quarto esmaecido
o velho projeta ao vento
sua angústia
e pede perdão ao mundo
por ter prolongado
tanto tempo
sua falta de alegria,
sua saudade das coisas,
seus tantos mistérios
e solidões sem fim.
Pede perdão e se atira
ao mundo, se entrega
derrotado, desvalido.
No espaço entre o salto
e a queda
é possível divisar
em seus lábios
um tênue sorriso
(a)final.

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