Saturday, November 17, 2007

“DO RITO GESTUAL”

Renunciar
- total e completamente-
aos gestos de costume,
rotineiros,
à tantas ações de movimento
planejadas,
meticulosamente calculadas,
extraídas de conveniencias
socialmente irrepreensíveis,
estudadas com afinco,
manipuladas, maquiadas.
Renunciar
- plena e absolutamente-
à bizarros trejeitos antiquados,
à mesmice obtusa, diversa,
aparvalhadamente observada,
copiada ao longo dos anos passados,
mal vividos,
inaproveitados.
Ousar
- ao menos uma vez que seja -
um gesto
novo,
irremediavelmente novo,
mas
evitar também
que seja assim de pronto,
imediato.
deve se tocar a alma
no mais fundo que se possa
com as duas mãos
em tempo igual
no mais fundo que se possa
e,
da profundidade maior
obter um breve rascunho,
uma minuta mal feita,
um plano sem estratégia,
mas que tenha a imagem da alma
e um tanto de cor de alma também
- imprescindível combinar
matizes variadas, perplexas,
atônitas, rebeldes e ordinárias -
e jogar tudo isso na
cama mal arrumada
do domingo de sol,
em meio ao dia de sol,
- dissimuladamente inútil
desprezar a invenção das horas,
dos dias de domingo de sol -
e alí deixar-se, imóvel, observando
coisas,
espantando-se,
regozijando-se com a perspectiva
de progresso que só o início
das coisas pode nos fazer sentir,
refletir um pouco
sobre tantas possibilidades,
sobre muitas posssibilidades,
procurando deter-se
absolutamente no processo
de descompromisso assumido
em nosso pacto com a ousadia
de criar
um gesto
novo
- ao mensos uma vez que seja -
Então começar à juntar
as coisas,
desorganizadamente unir
diferentes formas
e cores e sentidos outros.
Desvairadamente apoplético
deliciar-se no “croquis”
obtido,
já quase um gesto,
meio que um lampejo
de ação inciada, esboçada,
dinamizada sob a ótica
da alma,
do mais fundo que se possa.
- não permitir confusões
(normais) entre a dinâmica
e o idealismo,
mesmo que o verso exija -
já quse parir
o gesto
novo...
Antes porém é necessário
contrair-se o ventre
e respirar um pouco,
atingir a temperatura e
posição ideais à seu intento,
que nunca vão,
e respirar um pouco
mais de novo
num crescendo, lento e descompassado,
deixar suar a testa
e o dorso já desnudo,
molhado.
Deixar fluir odores,
grunhidos, metáforas
sintonizar parábolas
e as fadas dos contos
distantes -
captar os sinais
do mais fundo que se possa -
metamorfosear
transcodificar
inversamente traduzir
repetir à exaustão
o respirar mais fundo
do mais fundo que se possa - de novo -
E fazer nascer
o inédito gesto concebido,
aninhá-lo de encontro
ao peito,
acalmar o coração
levado a seu limite
- apoteótico coração poeta -
E fazer viver o gesto, mostrá-lo ao mundo,
distribuí-
lo
em
capítulos,
assim que houver patrocínio.
E
gesticular,
- imensa e absurdamente -
o gesto
novo,
autorizando seu consumo
exagerado,
seu uso
indiscriminado,
aceitando
seu vício
incontrolável
e
abrir mão
da patente
discutindo contratos futuros,
indenizações,
responsabilidades,
garantias...
e
renunciar
- de novo ou
sempre que possível -
aos gestos de costume,
rotineiros...

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